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COM BOLSA EM BAIXA, FUNDOS DE PENSÃO VÃO ÀS COMPRAS

 
Petros, Valia, Funcef e Real Grandeza, quatro das maiores fundações do país, que somam um patrimônio de R$ 120 bilhões, estão no mercado.
Enquanto outros investidores corriam para vender ações numa reação automática à crise, os fundos de pensão aproveitaram a volatilidade que tomou conta dos mercados indo às compras para fortalecer suas carteiras. Petros, Valia, Funcef e Real Grandeza, quatro das maiores fundações do país, que somam um patrimônio de R$ 120 bilhões, estão no mercado. Nos três pregões mais agudos da crise, só a Real Grandeza, fundação de previdência dos funcionários de Furnas, gastou R$ 300 milhões com aquisição de papéis de empresas de primeira linha, como Petrobras e Vale."Estávamos abaixo da nossa alocação estratégica na parte de bolsa, então aproveitamos esse momento para poder fazer compras", disse Eduardo Henrique Garcia, diretor de investimentos do fundo de pensão. Antes de ir às compras, a carteira de renda variável da Real Grandeza correspondia a 14% dos R$ 8,9 bilhões do seu patrimônio. A operação realizada desde a semana passada elevou essa fatia para perto dos 18% apontados pela alocação estratégica delineada pela própria fundação.

A Valia, dos funcionários da Vale, está analisando as boas oportunidades para recompor o portfólio. Com a baixa da bolsa, a fundação, com patrimônio de R$ 14 bilhões, sendo 25% investidos em ações, teve sua carteira de renda variável encolhida em 15%.

"Mesmo com essa queda, nossa carteira de ações está acima do Ibovespa, que caiu 28% no ano. Até agora estamos fazendo pequenos ajustes em relação ao índice. Ainda não fizemos nenhuma compra grande, mas estamos avaliando o mercado. A fundação da Vale tem em sua carteira empresas sólidas que passam tranquilas por essa turbulência", disse Lott.

A Petros, dos empregados da Petrobras, com patrimônio de R$ 51 bilhões, tem 40% deste valor aplicado em papéis de empresas e planeja até ampliar um pouco esse percentual. Luís Carlos Afonso, presidente da Petros, pretende aproveitar o momento de baixa da bolsa para construir novas participações ou aumentar as que já detém em empresas de primeiríssima linha. "Estamos apostando no crescimento da nossa carteira de participações e várias empresas que hoje têm preços convidativos estão no nosso radar. Não pretendemos vender nenhuma dessas participações. Em caso de necessidade, temos a carteira de giro que é mais defensiva e funciona como um complemento de liquidez".

A partir da crise de 2008, segundo Afonso, a Petros adotou dois tratamentos diferenciados para sua carteira de renda variável: um portfólio de giro, com ações que podem ser negociadas facilmente, e outro de participações, mais estratégico. "De 2008 para cá, crescemos muito em renda variável, de 23% para 34%, em 2009, e agora estamos em 40%".

Para a Funcef, que tem R$ 44 bilhões em ativos e aplica 33% na bolsa, o colchão de liquidez vem da renda fixa, que responde por 75% do patrimônio. Demostenes Marques, diretor de investimentos da fundação, disse que esse colchão tem liquidez para fazer frente às obrigações da casa por dois anos, sem ter de "realizar perdas com ações". Por isso, quando a crise se acentuou, no final da semana passada, a direção da Funcef tomou a decisão de ir às compras, que iniciou logo no primeiro pregão desta semana.

Marques não revela o montante que destinou para o que chama de "reentrada", mas a orientação para as aquisições, dessa vez, é bem diversa do habitual. Em vez de 80% ou 90% referenciados em um índice, só a metade vai seguir esse parâmetro. Com a outra, a fundação vai em busca de papéis que, na pressa de sair da bolsa, outros investidores deixaram depreciados demais.

"Tem algumas oportunidades que ficaram evidentes", disse Marques. Segundo ele, a Funcef trabalha com o que chama de "carteira de retorno absoluto", composta por 12 ações escolhidas pelos analistas da próprio fundo de pensão, conforme os fundamentos das empresas. Além desse grupo, há ainda papéis de alta liquidez que a Funcef considera terem sido muito castigados, apesar da boa saúde financeira das empresas. Algumas dessas companhias, segundo Marques, talvez saiam até melhor posicionadas da crise, em relação aos seus competidores.

A avaliação é parecida com a feita pelo presidente da Petros. Para Afonso, o mercado de ações local, por ser de alta liquidez, paga o preço da volatilidade internacional. "Quando comparada ao resto do mundo, a bolsa brasileira é a que tem a maior queda. Não vejo razões objetivas para isso. Nossas empresas estão muito baratas, estão até recomprando suas ações. O preço dos papéis de algumas, até da primeira linha, está muito abaixo do que de fato vale".

Os gestores dessas fundações acreditam que a irracionalidade verificada nos últimos pregões decorre da entrada e saída do capital estrangeiro da bolsa. No momento da baixa, mecanismos de "stop loss" (limitação de perdas) são acionados automaticamente e desfazem carteiras muitas vezes montadas criteriosamente, abrindo mão de ações de alta qualidade a um preço baixo. A corrida do capital em direção aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, mesmo após o rebaixamento, é apontada como uma das causas para a revoada da BM&F Bovespa.

Na visão dos fundos de pensão, grandes investidores de longo prazo, esta não será nem a primeira, nem a última crise. "A crise lá fora é diferente da de 2008", avalia o presidente da Petros. A expectativa dele é que, se agora a bolsa sofre com a revoada do capital especulativo, mais tarde, com provável desaceleração das economias desenvolvidas, o Brasil pode se tornar um destino atraente para capitais de investimento de melhor qualidade.

(Fonte: Valor Econômico)

 

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