Duas das maiores instituições financeiras do país – uma privada, outra pública – acabam de divulgar ganhos recordes. Na véspera de Finados, o Itaú informara um lucro capaz de levantar defunto, R$ 10,9 bilhões, o maior da história bancária em três trimestres. Na volta do feriado, foi a vez de o Banco do Brasil anunciar um feito particular – embolsou R$ 9,2 bilhões até setembro.
A reportagem é de André Barrocal e publicada por Carta Maior, 04-11-2011.
Lucro bancário astronômico não é novidade num país que convive com as mais altas taxas de juros do mundo por um período ininterrupto (16 anos) como nunca se viu antes. Incomum é assistir a um dos principais responsáveis pela situação, o Banco Central – que com seu juro básico campeão influencia todas as taxas do país -, apontar a nudez dos reis do sistema financeiro.
O apetite das instituições está exposto em relatório anual do BC sobre o setor bancário divulgado, por coincidência, nesta quinta (3). O documento disseca a contabilidade das empresas e identifica o destino que dão ao dinheiro arrecadado com uma parte da taxa de juros chamada spread.
Spread é aquele percentual que todo banco adiciona ao juro do BC, uma espécie de custo da matéria prima (dinheiro) das instituições, na hora de calcular quanto cobrará por um empréstimo. Mais da metade do spread é margem bruta de lucro, diz o relatório. Um terço vira lucro líquido.
Além de enriquecer, o spead também serve para os bancos arranjarem recursos com os quais pagar funcionários e impostos e proteger-se de calotes. Dois anos atrás, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial apontava o Brasil como spread medalha de prata no planeta – o ouro pertencia ao Zimbábue.
Em 2010, a fatia "margem bruta de lucro" subiu dentro do spread total, segundo o BC, de 49% para 54% frente o ano anterior. Descontados os tributos recolhidos sobre tais ganhos, a fatia "margem líquida" também aumentou a participação no spread, chegando a 32% (era de 29% em 2009).
No documento, o BC afirma que a margem bruta é componente "relevante" do spread, "havendo espaço para redução". Uma das sugestões que faz para baixá-lo mexe, porém, com os cofres públicos, não com o apetite das instituições. O fisco estaria errado ao cobrar delas impostos sobre receitas que nem o BC, como xerife bancário, reconhece como sendo dos bancos.
A gula do sistema financeiro é generalizada, mas, no relatório do BC, observa-se um pouco mais de recato por parte das instituições públicas. Elas trabalham com taxas de juros, spread e lucro menores.
De 2004 em diante, diminuíram-nas bem mais do que as particulares. A queda do juro foi duas vezes maior. O spread, que era mais alto, agora é inferior. Em 2010, a margem bruta de lucro dos bancos públicos equivalia a 50% do spread total. Entre os privados, bateu em 57%. Na fatia "líquida", outra diferença: 30% nos públicos, 34% nos privados.