Há dez dias, o Banco do Brasil (BB) enviou ao mercado um comunicado que era esperado por analistas havia algum tempo. Informava que estuda fazer uma emissão de ações para ampliar a quantidade de papéis em circulação, atendendo a exigência da BM&FBovespa. Na realidade, porém, a captação tem outro objetivo mais urgente: permitir que o BB mantenha o ritmo de concessão de crédito, que se acelerou com a crise.
Existe um indicador mundial que define quanto um banco pode emprestar em relação a seu patrimônio. É o chamado Índice de Basileia. Nos países desenvolvidos, é de 8%. No Brasil, de 11%. No caso brasileiro, significa que, para cada R$ 1 de patrimônio, a instituição financeira pode conceder no máximo R$ 9 em crédito. Ao final do terceiro trimestre, o BB tinha um Basileia de 13%, o menor entre os principais bancos brasileiros ? no Itaú Unibanco, era de 16,3% e no Bradesco, 17,7%.
Isso significa que o BB precisa ampliar o patrimônio para poder emprestar mais, sem correr risco de ter o Basileia encostando em 11%. O banco já fez recentemente duas captações com esse objetivo, uma no mercado interno (por meio da chamada dívida subordinada) e outra no mercado externo (por um instrumento conhecido como bônus perpétuo). Incluindo o dinheiro, o que ainda depende de aprovação do Banco Central (BC) e não tem prazo para ocorrer, o Basileia vai a 13,9%.
Apesar da pequena folga obtida com as operações, a analista de instituições financeiras da Ativa Corretora, Laura Lyra Shuch, considera a situação "preocupante". "Ainda bem que o banco já está tomando providências", observou.
O analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu, fez as contas e concluiu que, se o BB mantiver nos próximos meses o ritmo de concessão de empréstimos que adotou em 2009 (expansão de 41% nos 12 meses encerrados em setembro), o Índice de Basileia chegaria ao mínimo exigido pelo BC (11%) entre o primeiro e o segundo trimestre de 2010. "O banco vai ter de dar uma solução rápida, fazer uma emissão até o segundo trimestre."
Segundo Santacreu, a diferença entre o Basileia atual e o mínimo exigido pelo BC equivale a cerca de R$ 70 bilhões em empréstimos (sem contar lucros da instituição, que também são incorporados ao patrimônio).
Se o ritmo de concessões entre janeiro e setembro de 2009 for mantido no quarto trimestre, isso equivaleria a mais R$ 30 bilhões. Sobrariam, portanto, cerca de R$ 40 bilhões, que, em tese, já seriam consumidos no primeiro trimestre de 2010.
O presidente do BB, Aldemir Bendine, faz um cálculo diferente. Segundo ele, a diferença entre o Basileia de 13,9% e o exigido pelo BC equivale a R$ 100 bilhões. Portanto, o banco não estaria tão apertado para realizar a emissão.
Ainda assim, ele reconhece que "a estrutura de capital do banco não é a mais adequada" no momento. "Fizemos muitas aquisições. De qualquer forma, os R$ 100 bilhões permitem passar 2010 com tranquilidade."
Fonte: Folha de São Paulo