Os bancos estão se tornando mais rígidos na liberação de empréstimos para pessoas físicas e micro e pequenas empresas, precavendo-se de um cenário adverso que combinará desaceleração da economia, maior desemprego, queda na renda e avanço da inadimplência. "Estamos mais rigorosos", avisa Rogério Calderón, diretor de controladoria do Itaú Unibanco. Outros bancos também vêm promovendo ajustes em suas políticas de concessão de crédito. Banco do Brasil (BB) e HSBC revisaram para baixo as projeções de expansão da carteira em 2011.
O alvo de maior preocupação no Itaú Unibanco são as micro e pequenas empresas, com faturamento anual de até R$ 6 milhões. Para o segmento, a maior seletividade se traduz na exigência de mais garantias, sobretudo recebíveis de cartões de crédito, de cheques pré-datados e duplicatas. "Se antes o volume de garantias girava em torno de 30% do valor do empréstimo, agora passou para 50%", diz Calderón.
Walter Malieni, diretor de crédito do Banco do Brasil, diz olhar "com mais carinho" as operações para pessoas físicas com renda mensal inferior a R$ 3 mil. "O endividamento nessa faixa preocupa", afirma. "Essa camada da população tem despesas inelásticas elevadas, como aluguel e transporte. Qualquer pressão inflacionária pode afetar o cumprimento das obrigações", explica.
O BB "mudou a régua" no chamado crédito massificado (linhas de crédito pessoal e ao consumo), diminuindo os limites de operação para novos clientes. A margem encolheu, inclusive no crédito consignado – com desconto em folha de pagamento e, portanto, menos arriscado – após uma substituição do critério de renda bruta pelo de renda líquida.
Bancos de pequeno e médio portes começam a se mostrar mais seletivos nas concessões para pessoas físicas, afirma Renato Oliva, presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), que reúne representantes do segmento. "Para o consumidor garantir um empréstimo já não é mais suficiente ter o nome limpo. Os bancos estão mais preocupados em saber onde essa pessoa trabalha e em quanto o empréstimo poderá comprometer a renda", diz.
O índice de inadimplência da pessoa física subiu de 5,7%, em dezembro de 2010, para 6,6% em julho, segundo dados do Banco Central (BC). Nas pessoas jurídicas, passou de 4% para 4,9%.
Valor Online