Um aperto na fiscalização adotada pelo Banco Central no ano passado, como consequência da quebra do PanAmericano, provocou ajustes nos balanços de bancos pequenos e médios e de algumas financeiras. O processo não está concluído e as demonstrações contábeis futuras ainda podem ser afetadas. Depois de passar um pente-fino nas contas das instituições, o BC determinou que diversos bancos aumentassem as provisões em seus balanços – em alguns casos, em volumes significativos.
Levantamento feito pelo Valor nas demonstrações contábeis até o terceiro trimestre de 2011 apontou que pelo menos dez instituições tiveram que fazer ajustes por determinação do BC ou receberam recomendação de suas auditorias independentes no mesmo sentido. Entre ajustes realizados e aqueles recomendados pelos auditores chega-se a um total de R$ 2,1 bilhões. Em apenas três casos – Rural, Luso Brasileiro e Máxima -, os bancos explicitaram em balanço que fizeram as adequações atendendo a determinação do BC. Em outros quatro casos – Schahin, Matone, Morada e financeira Oboé – os ajustes requisitados pela autoridade foram além e resultaram em operações de troca de controle ou intervenção. Os auditores independentes também foram protagonistas de pedidos de alterações, adotando comportamento mais rigoroso em função do episódio do PanAmericano e sob pressão do BC.
Dois problemas foram recorrentes, segundo apontam balanços de bancos e relatos de banqueiros: a reclassificação, para pior, do rating de operações de crédito, com consequente aumento das provisões, e mudança na forma de contabilização das comissões pagas aos chamados "pastinhas", que vendem as operações de crédito consignado. Nesse caso, bancos que cedem suas carteiras vinham mantendo a despesa com as comissões diferida ao longo do prazo do contrato. O BC exigiu que as despesas fossem deduzidas de uma só vez, no ato da cessão do crédito.
O BC faz de tempos em tempos rodadas de inspeção geral mais aprofundadas. Além do episódio do PanAmericano, o cenário de crise também teria motivado a instituição a agir.
Valor Online