Os três maiores bancos comerciais privados do Brasil em volume de ativos (Itaú, Bradesco e Santander) travam uma saudável disputa pela ampliação de sua presença no agronegócio brasileiro. Tradicionalmente mais ligados ao Banco do Brasil, nacionalmente, e ao Banrisul e às cooperativas de crédito, no Rio Grande do Sul, produtores rurais estão cada vez mais no foco dos bancos privados. O "assédio" sobre o segmento cresceu sobretudo a partir de 2013, quando a crise econômica se aprofundou no País, e a agricultura e a pecuária se tornaram ilhas de desenvolvimento praticamente isoladas.
Assessora da Comissão Nacional de Política Agrícola da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), Fernanda Schwantes arma que essas instituições crescem especialmente em regiões de atendimento ainda não plenamente cobertas nem pelo setor público, nem pelas cooperativas de crédito, menos no Norte e no Centro-Oeste, por exemplo. Uma da vantagens do setor privado, diz Fernanda, é a agilidade na criação de novos serviços e produtos. Além de as taxas e juros cobrados pelos bancos privados serem equivalentes,
se for levado em conta que bancos públicos costumam fazer mais exigências do que os privados na concessão de crédito, o custo no privado fica até menor, arma a assessora técnica da CNA.
"Apesar de ser venda casada, nas instituições públicas é normal cobrar do produtor a adesão a uma série de produtos bancários para pegar financiamento, o que não ocorre no privado, que ainda aceita a propriedade do produtor como garantia. Isso facilita o acesso ao crédito", diz Fernanda.
Apesar de o avanço privado ser a grande marca dos últimos anos, o presidente da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Carlos Sperotto, também chama a atenção para o avanço de um grande player público. A Caixa Econômica Federal, diz Sperotto, também tem aberto os olhos para as oportunidades do setor.
"A Caixa sempre foi mais ligada à construção civil, por exemplo, mas tem se aproximado da agricultura e da pecuária, especialmente no último ano, o que agrega concorrentes mais fortes ao setor, junto com os privados", avalia Sperotto.
O crescimento também se reflete em mercado de trabalho extra para um profissional diretamente ligado às atividades no campo: o engenheiro agrônomo. Para melhor analisar as condições e necessidades, assim como fiscalizar e acompanhar o uso dos recursos, agrônomos reforçam as equipes e a presença nas agências, especialmente em polos agrícolas do interior dos principais estados produtores do Brasil.
Diretor de Produtores Rurais no Itaú BBA, Antonio Carlos Ortiz não gosta de falar da importância do agronegócio para a instituição focando nas linhas de nanciamento. Vai logo dizendo que não é este o foco. "Queremos um relacionamento que faça sentido no longo prazo, e não em uma transação. Queremos estar próximos, desde a ajuda para fazer o hedge e a proteção cambial até o cuidado com o fuxo de caixa, pagamentos e recebíveis, aproximando-o inclusive do mercado de capitais", explica.
De acordo com o executivo, da carteira empresarial do Itaú, o setor primário avançou de participação de cerca de 6%, há cinco anos, para próximo de 19% hoje.
No Rio Grande do Sul, além de uma cadeia bem organizada da produção primária até a industrial, outra característica torna o Estado importante para o banco. "O Rio Grande do Sul tem muitos pequenos produtores, e cada um procura ter, dentro do possível, sua própria estrutura em tratores e colheitadeiras. Isso representa um enorme mercado e investimento em tecnologia", avalia Ortiz.
Apesar de a soja ser a grande estrela do agronegócio, é com a pecuária que o Bradesco tem sua relação mais estreita. Da carteira de crédito do banco, 21% vem da atividade com animais, 11% da soja, 4% do milho, 8% para cooperativas. O restante é fragmentado a outras culturas, segundo Rui Pereira Rosa, superintendente executivo de agronegócio da instituição. "No ano-safra 2016/2017, nossa carteira agro crescerá 10%", ressalta.
Do universo de R$ 22 bilhões que a instituição destinou ao setor, diluídos em 130 mil contratos, o agronegócio ainda tem ganhos não incluídos nesta soma. Pereira se refere a produtos e serviços que vem na esteira do relacionamento com o produtos rural. "O produtor que adquire financiamento também é o consumidor de um consórcio de veículo, de um seguro de vida e produtos não ligados ao campo", ressalta o executivo do Bradesco.
Questionado sobre a importância do Rio Grande do Sul na estratégia para o agronegócio, o executivo é rápido: "É o único estado onde patrocinamos duas feiras, a Expodireto e a Expointer".
Foi em 2015, com a chegada de Sérgio Rial à presidência do Santander, que o agronegócio ganhou prioridade na instituição. E não é por acaso. Rial, além do setor nanceiro, tem forte ligação com o setor: passou por gigantes do ramo, como Cargill, Seara e Marfrig.
Em 2016, reforçou a equipe e contratou mais de 40 agrônomos para atuar nas agências no País e arma ter reduzido em 40% o tempo para liberar créditos. O banco também contabiliza nas estratégias de conquista de terreno a abertura de atendimento especializado e mais perto da porteira, com a criação de agências vocacionadas. Hoje, são 300 no Brasil, oferecendo suporte de agrônomos, tecnologia e novos serviços. Neste ano, o banco planeja abrir 16 agências especializadas no setor agrícola.
A participação em eventos do setor também se expandiu: de sete em 2016 para 11 em 2017. Com isso, no primeiro trimestre, a carteira de crédito rural cou em R$ 10,6 bilhões, um acréscimo de 68,25% na comparação com os R$ 6,3 bilhões do mesmo período do ano passado.