Expectativa do movimento sindical é que Banco do Brasil volte a desempenhar sua função social
Constantemente ameaçados nos últimos anos, os bancos públicos tomam um novo fôlego agora com o resultado do segundo turno das eleições, em 30 de outubro de 2022. Após um período de demissões, fechamento de agências, encolhimento e outras precarizações visando preparar o campo para a privatização, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, os dois maiores bancos públicos do país, podem mudar de rumo com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a saída de Jair Bolsonaro (Partido Liberal).
Desde 2016, os bancos têm precarizado as relações de trabalho e aniquilado direitos históricos conquistados pela categoria bancária. Apoiados por banqueiros e outros empresários, os governos Temer e Bolsonaro destroçaram os direitos trabalhistas, abrindo caminho para iniciativas que hoje são modelo de negócio nas instituições privadas, como a terceirização.
Banco do Brasil encolheu
Em 2020, o ministro da Economia do atual governo, Paulo Guedes, declarou abertamente que o “BB era um caso pronto de privatização”. Durante todo o governo, o BB foi perdendo espaço e seu papel de banco público. Encolheu, demitiu, perdeu carteira de crédito, espaço no mercado e a sintonia com o desenvolvimento nacional. No mesmo ano, por exemplo, numa inédita e estranha operação, o BB cedeu para a BTG Pactual uma carteira de crédito de R$ 2,9 bilhões. Foi a primeira vez que o banco fez uma operação destas fora do conglomerado. Coincidência ou não, um dos sócios-fundadores do BTG é Paulo Guedes.
Dados do Dieese comprovam que o BB está menor. Entre dezembro de 2018 e setembro de 2022, foram fechadas 1.933 agências, sendo que 35,70% nas capitais e 64,30% em municípios do interior. O BB também fechou mais de 10 mil postos de trabalho no país no mesmo período.
Entre 2014 e o primeiro semestre de 2022, a carteira de crédito do banco caiu 25%. Passou de mais de R$ 1,08 trilhão para cerca de R$ 813 bilhões (números de junho de 2022). O processo de desmonte é conhecido do movimento sindical, conforme observa Priscila Aguirres, diretora da Fetrafi-RS. “A perda de participação no mercado e a mudança do seu papel de banco público é bastante preocupante. O BB sempre foi conhecido por fomentar e subsidiar quem mais precisa, mas nos últimos cinco anos tanto o pequeno produtor rural quanto os micro ou pequenos empresários têm encontrado dificuldades para acessar financiamentos e linhas de crédito”, alerta a dirigente.
O banco mais antigo do país, com 214 anos de história, faz parte da vida dos brasileiros como agente de desenvolvimento social e econômico do Brasil. O financiamento da agricultura familiar, por exemplo, responsável por colocar 70% dos alimentos nas mesas das famílias brasileiras, vem do Banco do Brasil. As micro, pequenas e médias empresas dependem das linhas de crédito do BB. Grande parte do financiamento da cultura, da educação, do esporte e de diversas ações sociais no país também está associado à atuação do banco.
Na avaliação do diretor do SindBancários e empregado do banco, Ronaldo Zeni, nos últimos anos o Banco do Brasil mudou seu perfil para um banco de mercado que prioriza o lucro acima de tudo. “Lutamos por um BB público, útil à sociedade, sustentável e perene, um banco que priorize o desenvolvimento nacional e com estabilidade para seus trabalhadores”, defendeu o dirigente.
Perspectivas
Com a troca de governo, o movimento sindical espera que os bancos públicos recuperem seu papel histórico no desenvolvimento do país. O presidente eleito já sinalizou que os bancos públicos devem ter um papel social e não podem deixar morrer as micro e pequenas empresas em função das dívidas contraídas na pandemia.
Segundo declaração de Lula em evento de campanha no mês de agosto, o novo governo pretende mudar a direção das empresas públicas, mas sem causar dano às instituições financeiras. “Nós não queremos que os bancos públicos tenham prejuízo, mas não queremos que eles tenham os mesmos lucros dos bancos privados. Eles têm que prestar uma função social”, enfatizou.
Priscila afirma que a expectativa é que o Banco do Brasil volte a ser protagonista como banco público, como ferramenta de incentivo à produção, desde a agricultura familiar ao empreendedor que necessita de financiamento para crescer, gerando renda e construindo para o crescimento do país. “Nós, funcionários, precisamos ter nosso trabalho respeitado, com condições de trabalho dignas para fazer nossa parte, continuar gerando bons resultados, mas cumprindo o papel social que o banco público deve ter”, conclui a dirigente.
O Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região acredita que o fortalecimento das empresas públicas é fundamental para a promoção do desenvolvimento do país. São os bancos públicos os responsáveis por oferecer 45% do crédito no Brasil; são eles que vão até os lugares mais remotos do país, onde os privados não tem interesse de estar, proporcionando o sonho da casa própria, a expansão de pequenos negócios e o ingresso na universidade para muitos brasileiros. São também os maiores responsáveis pela liberação de crédito para a agricultura. Sem eles, o campo não produz e os alimentos ficariam ainda mais caros.
O fortalecimento dos bancos públicos é fundamental para combater a crise e o endividamento do país. Sem eles, a economia do Brasil para, afetando a agricultura, pecuária, infraestrutura, o empreendedorismo e a educação. Portanto, defender os bancos públicos é defender um país melhor, mais desenvolvido, menos desigual e mais justo.
Imprensa SindBancários