O Banco Central decidiu prorrogar indefinidamente os atuais estímulos e ainda induzir os grandes bancos a melhorar a liquidez de bancos menores, via aquisição de carteiras de crédito, depósitos interfinanceiros e, partir de agora, também de compra de letras financeiras. Para tanto, deixará de remunerar 36% dos recolhimentos compulsórios sobre depósitos a prazo captados pelas instituições, o mesmo percentual que elas podem destinar a essas três finalidades.
Anunciada na noite desta quinta-feira, a medida será implementada em duas etapas até 27 de abril e tem potencial para elevar em cerca de R$ 30 bilhões o volume de recursos aplicado pelas grandes instituições em bancos menores a partir dos estímulos criados na crise de 2008/2009.
Hoje, 100% do que fica recolhido ao BC a título do compulsório sobre captações a prazo são remunerados pela Selic. Em 24 de fevereiro, esse percentual cairá para 73% e, em 27 de abril, para 64%.
Para resolver o problema de liquidez sofrido pelos pequenos, na crise de 2008/2009, a autoridade monetária permitiu que até 36% do valor exigido em recolhimento compulsório sobre depósitos a prazo fossem destinados à compra de carteiras e à depósitos financeiros de instituições com patrimônio de referência de até R$ 2,5 bilhões – limite que agora cai para R$ 2,2 bilhões. O diretor de Política Monetária do BC, Aldo Mendes, informa que, em tese, essa regra permitiria usar atualmente perto de R$ 61 bilhões. Mas somente R$ 31 bilhões estão efetivamente aplicados dessa maneira pelos bancos grandes.
A medida anunciada acaba com o prazo para utilização do mecanismo de estímulo adotado na crise, que terminaria no fim deste ano. Não há mais prazo limite para compra de carteira nem para aquisição de letras financeiras com recursos do compulsório. Somente os depósitos interfinanceiros não poderão mais ser feitos como modo alternativo de cumprir a exibilidade sobre recursos a prazo, mesmo assim depois de 29 de junho de 2012.
Aldo Mendes afirma que, diferentemente do que ocorreu em 2008/2009, hoje não há bancos com dificuldade de liquidez. O objetivo agora, diz, é estimular as operações de crédito dos bancos pequenos, aumentando o "funding" de longo prazo.
Com a medida anunciada nesta quinta-feira, as grandes instituições terão que escolher entre deixar dinheiro parado no Banco Central sem um centavo de juros ou ganhar comprando carteiras de crédito e/ou aplicando em letras financeiras, modalidade que não estava prevista na regra anterior de estímulo.
"Essa é uma medida que otimiza a liquidez do sistema financeiro", diz Aldo Mendes, explicando que enquanto os grandes bancos são "eminentemente captadores", os pequenos são "eminentemente aplicadores" em operações de crédito.
(Mônica Izaguirre | Valor)