Sindicato dos Bancários de São Paulo e Idec fazem campanha para que os bancos diminuam a pressão para o alcance de metas movidas a venda de produtos inadequados ao cliente
Cobrança indevida, débito não autorizado e venda casada de produtos são algumas das reclamações mais frequentes dos clientes de bancos. Segundo ranking de 2011 do Instituto Brasileiro de Defesa ao Consumidor (Idec), o setor financeiro é um dos que mais recebe reclamações por falha de execução no serviço. Os bancos quebraram a hegemonia dos planos de saúde, primeiros na lista durante 11 anos.
Somada a essas ocorrências está a pressão sofrida pelos bancários para o cumprimento das metas. Por ocasião do Dia Mundial do Consumidor, o Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e o Idec promoveram hoje (15) um seminário para discutir o tema da venda responsável de produtos.
Leia também: "Cerco ao se colar colou", na Revista do Brasil de marçoPesquisa sobre a saúde dos profissionais do setor feita no ano passado pelo sindicato apontou situações de assédio moral e pressão pelo cumprimento de metas entre as queixas mais frequentes dos trabalhadores. O estresse é o primeiro dos problemas citados, com 65%, seguido da dificuldade de relaxar (62%). "Tudo isso está ligado à má gestão dos bancos. Eles jogam toda a responsabilidade nos trabalhadores", afirmou a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira.
O estabelecimento de metas de vendas e a excessiva cobrança dos gestores pela venda dos produtos bancários sem levar em conta o perfil do cliente, segundo Juvandia, impõem ao trabalhador que não meça esforços nem limites éticos para vender, sob risco de demissão. "Os clientes não sabem o que compram e sofrem tanto bancários quanto clientes", critica. A entidade lançou durante o seminário uma cartilha com objetivo de orientar o consumidor para que entenda os produtos financeiros – como seguros, títulos de capitalização, planos de previdência completar etc. – que são oferecidos e se se adequam a suas necessidades.
Para a coordenadora executiva do Idec, Lisa Gunn, é necessário que as instituições financeiras – que costumam se esquivar de discutir um acordo sobre esses problemas, qualificando-os de "pontuais" – se comprometam com termos que assegurem a melhoria na política interna e na qualidade dos serviços oferecidos. "Precisamos de medidas concretas que garantam ambiente saudável aos bancários e serviço adequado para cada perfil de cliente", ressaltou.
As entidades defendem ainda uma ação reguladora mais efetiva da autoridade monetária, o Banco Central, para impulsionar as instituições financeiras a adotar novas condutas. Segundo informações do próprio BC, somente em janeiro deste ano foram feitas 271 reclamações procedentes de débitos não autorizados, 194 de cobrança irregular de serviços não contratados e 104 da falta de esclarecimento por parte do banco. No total foram 1.309 de reclamações procedentes registradas naquele mês. Entre os bancos que registraram os maiores índices de queixas, o Itaú aparece em primeiro lugar com 252 reclamações, seguido do Banco do Brasil (256) e do Santander (157).
A campanha conjunta, intitulada "Direitos dos consumidores e dos trabalhadores bancários: pela venda responsável de produtos e serviços financeiros", faz parte de iniciativa internacional do Consumers International (CI), federação global de organizações de defesa ao consumidor, da qual o Idec é membro do conselho.
A UNI Finanças, entidade membro da United Networks International (UNI), rede global de sindicatos do setor de serviços com 900 entidades filiadas em 150 países, também tem orientado entidades sindicais do setor pelo mundo a desenvolver campanhas para que os acordos coletivos de trabalho incluam critérios para formulação de metas adequadas às demandas dos clientes e usuários em cada região.
Programação
Comemoram-se neste ano também os 21 anos de vigência do Código de Defesa do Consumidor, instituído pela Lei Federal 8.078/90. Para orientar o consumidor, o Idec tem uma programação de conscientização até o final do mês, que inclui seminários, debates e distribuição de material de educação para o consumo. "A atuação do instituto tem como finalidade tornar as relações de consumo mais equilibradas. Todos os assuntos merecem atenção", afirmou Lisa Gunn.
Rede Brasil Atual