Há quase 10 anos os sindicatos e a Fetrafi-RS tentam discutir as funções de 8 horas no Banrisul.
Há quase 10 anos os sindicatos e a Fetrafi-RS tentam discutir as funções de 8 horas no Banrisul. Por diversas vezes, desde 2010, o movimento sindical alertou sobre o passivo trabalhista que as chamadas "funções comissionadas" geram e tentou negociar soluções com a diretoria do banco. Diretoria esta que fechou as portas ao movimento em 2015 e nunca mais nos recebeu – colocando à frente das negociações colegas do RH e do departamento jurídico que, por mais que nos recebam e tenham boa vontade em discutir todos os temas afetos à categoria, não possuem autonomia e poder decisório para resolver questões como esta.
Diretorias dos mais diversos matizes políticos já passaram pelo Banrisul desde a criação da remuneração baseada em "comissão + ADI" para funções que o banco entende que seja necessária uma jornada de oito horas. Durante o quadriênio 2011-2014 tivemos uma grande oportunidade de discutir e resolver essa situação de uma vez por todas, quando foi formada pelo Banrisul e movimento sindical a Comissão Paritária sobre o Plano de Carreira.
O Escriturário Especialista era a solução ideal tanto para o banco quanto para o quadro funcional, pois garantia uma remuneração superior a do Escriturário para execução de tarefas consideradas de maior complexidade sem mexer na jornada de seis horas – o que eliminaria de uma vez por todas as ações trabalhistas individuais e coletivas que reivindicam o pagamento de horas-extra para as funções que hoje são de oito horas.
Entre 2013 e 2014, com a cartilha em mãos, banrisulenses e Comando Nacional pressionaram o banco pela implementação do novo Plano de Carreira. Foram dias de luta, negociações, manifestações, dia do preto, dia do vermelho e até mesmo greves motivadas não só pela Campanha Salarial, mas também pela indignação dos banrisulenses que não entendiam porque o banco não queria implementar o novo quadro.
Em 2014, numa campanha salarial difícil e poluída pela polarização de uma eleição conturbada, a diretoria apresentou uma versão própria de plano de carreira que, ainda que fosse inferior à proposta apresentada pelo movimento sindical, resolvia a vida profissional de todos. A esta altura já estávamos numa greve prolongada e muitos interesses eleitoreiros se confundiam com o que era realmente importante para os Banrisulenses naquele momento.
Em tom de ultimato – e aparentemente torcendo por uma negativa da categoria -, a diretoria do banco entregou sua proposta de Plano de Carreira e deu um prazo de menos de 24 horas para que os mais de 12.000 Banrisulenses à época analisassem e decidissem em assembleias por todo o país se a aceitavam ou não, encerrando a greve.
Deu no que deu: muito tumulto, assembleias em que os bancários nem queriam ouvir a proposta, uma oposição sindical radicalizada pelo processo eleitoral e um Plano de Carreira jogado pelo ralo. Após as eleições para governador e a transição para uma nova diretoria, o banco fechou as portas para o debate sobre a nossa carreira e a nova diretoria se encastelou em seu gabinete por mais de quatro anos, sem sequer receber o movimento.
Pois bem. O último recurso do movimento sindical foi a Justiça do Trabalho, para garantir o reconhecimento do direito dos bancários à jornada de seis horas. É dever constitucional de qualquer sindicato representar seus associados na defesa de seus direitos e assim foi feito. Agora o Banrisul precisa lidar com ações coletivas que visam o reconhecimento da jornada de seis horas para os Analistas e outros cargos comissionados, que já começam a receber sentenças favoráveis.
Mas ainda há tempo. É possível estancar esse passivo para o futuro, reorganizar a carreira e assegurar o direito dos banrisulenses à jornada de seis horas. A solução já existe há anos e está engavetada no RH, se chama Plano de Carreira. A bola está com a diretoria do banco.
E aí, Banrisul, vamos negociar?
*Diretor da Fetrafi-RS