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CRISE TORNA MAIS DIFÍCEIS AS NEGOCIAÇÕES SALARIAIS

Bancários reivindicam reajuste de 12,8%, com aumento real no salário

O agravamento da crise financeira internacional deve prejudicar as negociações de categorias com data-base neste segundo semestre. Os trabalhadores, que há duas semanas iniciaram a campanha salarial adotando um discurso de enfrentamento, já estão conscientes de que os empresários vão levar para a mesa de negociação dados que indicam a retração da economia e a dificuldade de reajustes muito acima da inflação. Líderes ligados à Força Sindical e à Central Única dos Trabalhadores (CUT) admitem que as negociações serão bem mais difíceis com o novo cenário econômico.

Depois de uma greve de três dias, os trabalhadores da Refinaria Abreu e Lima e do Polo Petroquímico de Suape, em Pernambuco, fecharam na semana passada acordo de reajuste salarial de 11%. O percentual inclui aumento real, mas é menor que os 15% que eles reivindicavam inicialmente.
– O agravamento da crise deixa as negociações mais difíceis. Os trabalhadores de Suape conseguiram um bom acordo, mas, de fato, é menor do que o reivindicado – disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho.

Do lado da indústria, a percepção é que muitas categorias já estão a par da debilidade econômica atual, principalmente dos setores mais afetados com a concorrência internacional. Segundo o diretor do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Francini, a crise externa é só mais um fator que vai reforçar a dificuldade da indústria no segundo semestre.

– A indústria já não está com a bola toda, e muitos setores passam por dificuldades. O que vai temperar as negociações é o quanto dessa crise vai ser sentido no país. Mas não considero que o trabalhador seja cego, nem que não tenha consciência do momento pelo qual passamos – disse ele, acrescentando que mesmo as medidas de incentivo anunciadas pelo governo para proteger a indústria não devem ainda fazer efeito neste ano.

Petroleiros contam com investimento do governo em estatais
No setor público, os dirigentes das principais estatais – Correios, Banco do Brasil, Caixa, Infraero e Petrobras – foram orientados, na semana passada, a negar reajuste salarial com ganhos acima da inflação para seus servidores. A diretriz faz parte do aperto fiscal prometido pelo governo para enfrentar a crise mundial.

O coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), João Antônio de Moraes, espera que o governo, como em 2008, invista no setor para se recuperar da crise econômica. Do contrário, a situação dos trabalhadores na mesa de negociação será mais difícil.

– Em 2008, Vale e Embraer demitiram trabalhadores. O governo investiu na Petrobras, que acabou não sendo muito prejudicada. Espero que neste ano a situação seja semelhante e consigamos aumento real de 10% – disse Moraes.

Os petroleiros têm data-base em setembro. A pauta será entregue nos próximos dias à Petrobras e às empresas privadas, que reúnem 85 mil trabalhadores (70 mil somente da Petrobras).

Expectativa de duas casas decimais
O secretário-geral da CUT, Quintino Severo, prevê que a crise entre no discurso das empresas no segundo semestre. Isso não significa, no entanto, que os trabalhadores vão ceder às novas pressões. Segundo Severo, as principais categorias que negociam reajustes no segundo semestre (metalúrgicos, bancários, petroleiros e químicos) não vão abdicar de reajustes salariais de duas casas decimais.

– Estamos negociando com base no que aconteceu no último ano e não no futuro incerto. Isso inclui uma inflação de 6% e um crescimento do PIB de 5%. Temos fôlego para reajustes de pelo menos 10% – disse Quintino.

Na indústria automotiva, a situação não é muito confortável. As montadores este ano vão negociar com grupos separados. Uma fonte do setor disse que as discussões para um reajuste maior serão intensas, mas lembrou que a indústria tem a seu favor a queda nas vendas de veículos nacionais, apesar do crescimento do mercado como um todo. As vendas de automóveis subiram 120% de 2006 a 2011. O problema é que a produção nacional cresceu apenas 43% no período, contra 860% dos importados.

No setor bancário, os trabalhadores não mudaram a proposta de reajuste de 12,8%, que representa um ganho real de 5%. O presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Carlos Cordeiro, diz que empresas e agora até o governo fazem "uma choradeira" ao usar o cenário econômico internacional como pretexto para um arrocho salarial.

– Essa é a choradeira dos empresários na qual o governo infelizmente está embarcando. A economia está crescendo muito, e o lucro dos bancos não está tendo nenhum impacto por conta de crise alguma – disse.

Para Magnus Apostólico, diretor de relações trabalhistas da Federação Nacional dos Bancos (Fenaban), o contexto econômico internacional estará presente na mesa, mas não deve causar grandes sobressaltos nas negociações com os bancários. Segundo ele, os trabalhadores do setor tiveram ganhos ascendentes nos últimos sete anos, mesmo com o cenário instável da economia internacional.

– A gente pretende fazer alguma coisa dentro da possibilidade que a conjuntura oferece. Vamos analisar isso, ouvir os bancos. Temos certeza de que, se tivermos argumentos corretos, haverá compreensão.

*O Globo

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