Durante quatro dias de debates dirigentes sindicais latino-americanos debateram os desafios do movimento sindical no mercado de trabalho
O último dia de trabalho do Fórum Sindical Internacional sobre a Digitalização Financeira, realizado na sede da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), uma das organizadoras do evento, na capital de São Paulo, foi reservado para o Wokshop “A digitalização e a mensagem sindical”.
Catalina Beltran, da Associação Colombiana de Empregados Bancários (ACEB), ministrou a palestra: “Ferramentas modernas para contactar com os trabalhadores, APPs e redes sociais”. “Através das redes sociais a gente conseguiu ajudar outros trabalhadores que queriam entrar no movimento sindical, mas não sabiam como”.
Catalina mostrou o aplicativo da ACEB que tem atraído muitos trabalhadores não sindicalizados. Nele, estão disponíveis todas as informações do sindicato, como convenções coletivas, notícias diárias, na rede social. “Eles se sentem mais seguros para mandar as suas dúvidas no chat. Ao respondermos rapidamente, eles ganham mais confiança na gente e acabamos estreitando o relacionamento”, explicou.
A dirigente sindical colombiana falou também sobre suas experiências no Tik Tok, com resultados bastante positivos. “Tik Tok é a rede social com os melhores algoritmos. Não basta postar um vídeo e esperar viralizar. A gente tem de definir um público-alvo e criar uma comunidade. Nesta plataforma, podemos ter conteúdos muito diversos e conseguirmos muitas visualizações”.
Na sequência, representantes da agência de conversação pública do Uruguai, Doble ele, abordou os desafios para as organizações sindicais nas redes sociais.
Laura Modernell, diretora de Comunicação da agência, lembrou que antigamente o problema era como passar as informações. “Agora é o que passar e por qual meio, com foco na pessoa que te ouve”. Isso porque, antigamente as pessoas recebiam as informações, pesquisavam e refletiam até formular a sua opinião. “Agora, as redes sociais sugerem que precisamos falar imediatamente, o que aumenta a polarização. É só vermos como inicialmente as pessoas demoravam para dar um like em qualquer coisa e agora é totalmente instantâneo”, apontou. “Isso aumenta a necessidade de informação também. E a comunicação dos sindicatos precisam acompanhar. Aumenta a quantidade de tempo que as informações que disponibilizamos, por outro lado, aumentam também as críticas. É algo a se pensar”, completou.
Fernando Calleros Piriz, sócio fundador da Doble ele, destacou a necessidade das entidades sindicais acompanharem o ritmo atual. “As pessoas têm uma grande necessidade de informação e a comunicação dos sindicatos precisam acompanhar. Aumentar a quantidade de tempo nas redes e os tipos de informações disponibilizados”.
Entretanto, ele lembrou que precisam estar preparados para as críticas. “A população geral quando escuta a palavra sindicato, já tem um conceito formado. Se for negativo, não tem como avançar. Precisamos evitar isso, pois se perdemos a confiança, perdemos a credibilidade, isso dá espaço para a criação de fake news, por exemplo”, finalizou.
A palestra da Mónica Sladogna, diretora da Friedrich Ebert Stiftung (FES) na Argentina, foi sobre digitalização e futuro do trabalho. A FES é uma fundação social-democrata alemã com mais de 35 anos de presença no país, comprometida com a democracia e a justiça social. “Temos de lembrar que os sindicatos são entidades que se comunicam. infelizmente, em muitos casos, os sindicatos continuam sendo analógicos. A gente precisa pensar em como fazer a digitalização”.
Ela aponta outra demanda da comunicação. “Nós temos novas formas de se expressar, de se comunicar. A lógica comunicacional mudou. Precisamos entender como os trabalhadores querem receber a informação e que tipo de informação e diagnosticar a reação a cada um dos tipos”.
Para isso, segundo ela, é necessário a profissionalização da comunicação. “A gente precisa seguir a demanda de qualificação profissional nesta área, como vamos acompanhar os trabalhadores ininterruptamente, 24 horas por dia, se não tivermos profissionais suficientes ou treinados para isso?”, completou. “O mundo do trabalho do futuro depende de nós, depende da organização sindical. Felizmente temos encontros como este para debater temas tão importantes como esses”.
Henrique Guilherme Batista, da equipe de Comunicação da Contraf-CUT, falou sobre a “Mensagem do sindicato na comunicação moderna. Estratégias para alcançar os jovens trabalhadores”.
Na Contraf-CUT, todas as campanhas são pensadas com estratégias para todas as regiões do Brasil e, principalmente, para que consigamos atingir todos os públicos, sejam jovens ou mais velhos. “A forma que encontramos de tentar atingir os jovens e também o público mais velho nas redes sociais é por meio da educação. Criando vídeos explicativos e cursos que ensinam a conhecer cada rede e a utilizar ferramentas e aplicativos”, explicou. “Nosso próximo passo é um seminário de comunicação, para comunicadores de todo Brasil e convidados internacional”, completou.
A palestra seguinte foi “A mensagem sindical comprometida com as lutas sociopolíticas”, ministrada por Ana Muga, da Confederação de Trabalhadores Bancários do Chile (CSTBA).
Para ela, o fortalecimento da organização dos trabalhadores são o único jeito de alcançar as transformações exigidas no país. “Nossa meta tem de ser espalhar e divulgar o trabalho desenvolvido pelas entidades bancárias na luta para recuperar de direitos sindicais e sociais nos países”.
Pablo Andrade, secretario de Finanzas da Associação dos Bancários do Uruguai (AEBU), falou sobre a otimização da comunicação digital. “Nós temos que conhecer as especificidades das redes, para saber onde nos aprofundar mais”.
De acordo com ele, “Essa estratégia, realmente tem dado certo. Tudo é mais rápido, é mais dínamico nas redes sociais. Nosso equilíbrio foi criar versões diferentes para cada um dos canais e tentar vinculá-los, para atingir a todos. Isso tem a ver com público e conteúdo”.
Merecida homenagem encerra o evento
O evento terminou com uma homenagem a Rita Berlofa, bancária do Santander, que iniciou sua carreira no Banespa, participando ativamente da luta contra a sua privatização.
Dirigente sindical desde 1997, na diretoria executiva do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região esteve à frente das secretarias de Saúde e Condições de Trabalho; Organização e Suporte Administrativo; Finanças; e de Estudos Sócio-econômicos.
Foi coordenadora da mesa de negociações com o Santander por 12 anos, coordenadora da Rede Sindical Santander para a UNI Américas por 10 anos, e presidenta da UNI Finanças por oito anos. Atualmente é secretária de Relações Internacionais da Contraf-CUT.
FONTE: CONTRAF