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ECONOMIA BRASILEIRA CRESCE E JÁ APONTA PARA PIB RECORDE DE 7%

A economia brasileira mostrou grande vitalidade no primeiro trimestre, com destaque para o crescimento expressivo das vendas no varejo e da produção industrial. Divulgado ontem, o resultado do comércio varejista de fevereiro confirmou o forte ritmo de expansão da atividade, ao subir 1,6% em relação a janeiro, feito o ajuste sazonal, impulsionado pela força do mercado de trabalho e pela ampla oferta de crédito.

Boa parte dos analistas estima que, no primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu cerca de 2% sobre o anterior, o que equivale a uma uma taxa anualizada de 8,4%. No quarto trimestre de 2009, a economia avançou os mesmos 2% nessa base de comparação.

Nesse cenário, está em curso uma onda de revisão das previsões para o desempenho do PIB em 2010. Há quem projete expansão superior a 7%, como o economista-chefe da corretora Convenção, Fernando Montero, que aposta em alta de 7,1%. O país não cresce mais de 7% desde os 7,5% de 1986, ano do Plano Cruzado. Em consequência da atividade firme, ganha força a aposta numa elevação da taxa Selic de 0,75 ponto percentual na reunião deste mês do Comitê de Política Monetária (Copom).

Indicadores divulgados nas últimas semanas não corroboraram a expectativa de que haveria uma desaceleração da economia nos primeiros meses de 2010, em função de uma possível antecipação de consumo em 2009, dadas as desonerações tributárias que beneficiaram produtos como veículos e eletrodomésticos da linha branca.

Os dados de vendas no varejo em fevereiro superaram de longe a expectativa do mercado, que trabalhava com uma expansão inferior a 1% sobre janeiro, mas viu uma alta de 1,6%. Esse crescimento ganha relevância quando se leva em conta que o número de janeiro foi revisado para cima, de 2,7% para 3%.

O economista-chefe do Banco Fator e professor da Universidade de São Paulo (USP), José Francisco de Lima Gonçalves, diz que a surpresa foi "geral", uma vez que o crescimento foi disseminado e "todos os dados vieram acima das projeções".

No caso do varejo ampliado, que inclui veículos e motos, partes e peças e material de construção, a alta foi de 2,1% sobre janeiro. Tudo indica que, em março, as vendas no varejo de veículos tiveram novo aumento expressivo, já que houve muitas compras motivadas pela perspectiva do fim da vigência do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) reduzido para veículos.

O licenciamento de veículos e comerciais leves em março subiu 18,6% sobre fevereiro, na série com ajuste sazonal calculada pela LCA Consultores. "Não resta muita dúvida que o PIB nos primeiros três meses teve elevação forte, na faixa dos 2% sobre o trimestre anterior", diz Gonçalves.

Montero projeta um crescimento de 2,2% no primeiro trimestre, vendo um ciclo extremamente favorável para impulsionar a atividade. Segundo ele, o consumo forte estimula o aumento dos investimentos, dos estoques e do emprego industrial, o que leva a um crescimento da ocupação e da renda, implicando mais confiança e mais consumo.

A inadimplência cai, os bancos aumentam a oferta de crédito e crescem as receitas do governo, garantindo o espaço para gastos públicos elevados. Para ele, a economia vai crescer 7,1% neste ano, mesmo com um ciclo de alta de juros já encomendado, que deve totalizar 3 pontos percentuais.

Os analistas também acreditam que a indústria foi muito bem em março. Indicadores importantes como a produção de automóveis, a expedição de papelão ondulado e o fluxo de veículos pesados nas estradas apontam para um crescimento da produção industrial no mês passado que pode superar o nível de fevereiro, acredita o economista-chefe do J. P. Morgan, Fábio Akira.

"No primeiro trimestre, o PIB deve ter crescido mais de 2%", estima ele, que vai revisar a sua projeção para o crescimento em 2010 de 6,2% para mais de 6,5%. Akira e Montero destacam ainda que o nível de estoques na indústria ainda é baixo, o que sugere que o movimento de recomposição de inventários ganhará força nos próximos meses, impulsionando a produção. O bom momento do mercado de trabalho, com forte geração de empregos formais e desemprego baixo para padrões brasileiros, também são fundamentais para o otimismo.

O economista Fernando de Paula Rocha, da JGP Gestão de Recursos, calcula que se o país não crescer mais nada até o fim do ano, apenas com o registrado neste primeiro trimestre e o que herdou do ano passado, a atividade terá avanço de 4,8% sobre 2009. "Isso, é claro, não vai acontecer", diz Rocha. "Se o crescimento recuar de 2% no primeiro trimestre, como eu prevejo, para 1% no segundo e oscilar nessa faixa até dezembro, o PIB terá avanço de 6,4% no ano. Uma alta superior a 6% é muito fácil de ser alcançada."

Mas há entre os analistas quem trabalhe com um PIB inferior a 6%. É o caso do economista-chefe da LCA, Bráulio Borges, que estima crescimento de 5,8% no ano.

Ele espera uma desaceleração razoável a partir do segundo trimestre. Borges diz que os números atuais "ainda estão influenciados pelas corridas às lojas para aproveitar a derradeira redução de IPI para linha branca e automóveis", além de contar com o efeito restritivo da política econômica: os gastos do governo como percentual do PIB recuaram desde dezembro, a elevação dos compulsórios equivaleu, segundo ele, a uma alta de 1,4 ponto da Selic, e haverá um aumento da taxa a partir deste mês. Ele espera uma elevação de 2,5 pontos até o fim do ano, enquanto Akira aposta em 3,5 pontos.

A maior parte dos analistas mostra preocupação quanto ao impacto da atividade sobre os preços. Para José Júlio Senna, ex-diretor do BC e sócio da MCM Consultores, a desaceleração da atividade no começo de ano, "que era esperada devido à alta forte ocorrida no fim do ano passado", não se verificou e, por isso, "deixa um ônus muito grande nas costas do BC, que vai ter de agir com firmeza para evitar descontrole".

Senna, porém, não prevê que a elevação da Selic será concentrada, mas diluída ao longo deste e do próximo ano. "Fazer todo o aumento de uma vez não faz sentido. Isso pode dar um tranco na economia e prejudicar seriamente o crescimento."

 Fonte: Valor Econômico

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