Gabriel de Palma afirmou que os "abusos" do sistema financeiro internacional terão efeitos negativos sobre a economia real por, pelo menos, mais cinco anos.
A crise econômica mundial está longe de terminar, segundo as projeções do economista chileno Gabriel de Palma, Professor da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Ele afirmou nesta quarta-feira, dia 14, em São Paulo, que os "abusos" do sistema financeiro internacional terão efeitos negativos sobre a economia real por, pelo menos, mais cinco anos.
"Esta é a pior crise econômica desde 1929 e será longa. A sua característica principal será a [duração] e não a sua intensidade", disse, em palestra no Programa Avançado Latino-Americano para o Repensamento do Macro-desenvolvimento Econômico (Laporde, na sigla em inglês), realizado na Fundação Getulio Vargas.
Para Palma, é difícil prever quando a crise vai terminar, mas se pode afirmar que ela será mais longa do que se espera, até porque nenhuma das soluções propostas até agora, na opinião do economista, é capaz de resolvê-la.
Só foram apresentadas saídas falsas."
O economista disse ainda ser pessimista quanto aos rumos da economia no pós-crise. Segundo ele, a equipe do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama – tida como a grande esperança para a promoção das mudanças necessárias – é formada pelas mesmas pessoas que, no passado, afrouxaram a regulação dos mercados e originiram o atual problema.
"As linhas gerais da regulação do sistema financeiro norte-americano foram estabelecidas no governo de Bill Clinton. A equipe de Obama é formada pelos menos que desenharam o sistema", afirmou.
Gabriel Palma afirma que atual taxa de juros do Brasil é injustificável
O economista afirmou também que não há justificativas para a taxa básica de juros da economia brasileira ser de 13,75% ao ano. Palma disse que esse atual patamar da Selic é muito alto e prejudica a economia do país diante dos problemas causadas pela crise mundial.
"Todos os países do mundo estão baixando os juros. Só o Brasil continua com um taxa de 13,75% ao ano", afirmou ele, em entrevista concedida à Agência Brasil, depois de proferir palestra no Programa Avançado Latino-Americano para o Repensamento do Macro-desenvolvimento Econômico (Laporde, na sigla em inglês), em São Paulo.
Segundo Palma, em um cenário de recessão da economia global, o risco de inflação é zero e, portanto, é um argumento inválido para manutenção da alta taxa de juros. "A inflação no Brasil foi causada, principalmente, pela alta do petróleo e das commodities. Estes preços já caíram, mas a taxa de juros ainda não," disse.
O economista afirmou que as economias de Estados Unidos, União Européia e Japão já têm juros que tendem a zero; o Chile, hoje, tem juros de 7% ao ano. Para ele, é injustificável que o Brasil não promova uma queda gradual da Selic pelos próximos dois ou três anos.
De acordo com Palma, a alta taxa de juros inviabiliza os investimentos privados no país – ponto importante para o aquecimento da economia. Mais do que isso, ele afirmou que a Selic inviabiliza até o investimento governamental, já que a dívida pública é corrigida com base no índice. "Se não baixar, não há como investir e aquecer a economia", disse.
Agência Brasil