Os bancos brasileiros têm um estoque de carteiras vencidas inadimplentes e passíveis de serem negociadas que pode chegar a quase R$ 330 bilhões, segundo estimativa da KPMG. De acordo com a empresa, desse volume, os bancos já retiraram cerca de R$ 180 bilhões em empréstimos vencidos de seus balanços patrimoniais.
Os outros R$ 149,8 bilhões, que seguem contabilizados demonstrações financeiras das instituições, se referem a concessões com atraso entre 61 dias e 360 dias registrados pelo Banco Central (BC) até outubro deste ano – valor 18,4% superior àquele de um ano antes.
Segundo regras do BC, as instituições têm de constituir provisões para as operações de liquidação duvidosa de 10% para atrasos de 61 dias a 90 dias, percentual que pode chegar a 100% para operações não quitadas entre 181 dias e 360 dias. Depois desse período, dão baixa nessas dívidas como prejuízo.
"O Brasil tem um mercado grande a ser explorado. Aqui se negocia cerca de 3% dessas carteiras. Em países como Itália e Espanha, esse percentual está entre 5% e 7%", diz Salvatore Milanese, sócio da área de reestruturação da KPMG.
O Citibank vendeu este ano R$ 60 milhões de dívida de empresas pequenas e médias. "Poderíamos ter vendido entre R$ 300 milhões e R$ 400 milhões de carteiras de pessoa física e R$ 3 bilhões de empresas, havia comprador, mas essa não era nossa estratégia", diz Ricardo Kaoru, superintendente de risco do Citibank. Em 2012, o banco espera vender um valor de face superior a R$ 1,5 bilhão.
Há também bancos médios atuando como vendedores de dívida, como Votorantim, Pine, Safra e o braço financeiro do Carrefour. Os principais interessados em carteiras vencidas são fundos administrados por grandes estrangeiros, como Bank of America Merrill Lynch e o Deutsche Bank, e gestoras de recursos de capital externo. A compra é feita basicamente por fundos de recebíveis que adquirem os direitos sobre a dívida.
Para Bruno Bossi, responsável por originações na Velum Credit Management, especializada na compra e na gestão de dívidas, uma das poucas de capital 100% nacional, o ano que acaba também foi marcado pela melhor qualidade das ofertas. "Era mais comum ver dívida vencida há cinco anos e agora se encontra outras muito mais recentes", diz.
A Credigy, da casa americana de mesmo nome, se interessa principalmente por carteiras de valor de face muito mais alto, geralmente superior a R$ 1 bilhão. Em 2012, deve focar na compra de carteiras de pessoa física. "Foi um ano de concorrência mais forte, e percebemos que quem antes não considerava vender agora já cogita a hipótese", disse Ulisses Rodrigues, presidente da Credigy.
Já a Orey Financial Brasil investe em outra estratégia. A subsidiária do grupo português é focada na compra de massas falidas e operações em litígio judicial – na maioria das vezes, inclui carteiras de crédito vencido. Em um intervalo próximo a 14 meses, a Orey comprou cerca de R$ 135 milhões em dívidas, basicamente em financiamentos de maquinário e agrícola. "É um mercado pouco explorado, composto por litígios de terrenos, imóveis, hotéis e galpões, por exemplo", explica Rodrigo Boratelli, diretor da empresa.
Fonte: Valor Online