O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que não é função do governo iniciar um debate sobre a flexibilização da legislação trabalhista como forma de garantir empregos. "Não é papel do governo fazer aquilo que os trabalhadores têm que fazer com os empresários. Qualquer acordo entre trabalhadores e empresários será dirigido pelos trabalhadores e empresários", disse ontem Lula, após almoço em homenagem ao presidente de Cuba, Raúl Castro. Roosewelt Pinheiro/ABr
"Não fiquem esperando que o governo faça tudo", disse o presidente Lula
Segundo o presidente, se o governo for chamado para intermediar algum tipo de conversa, estará pronto. Mas acha que esse é um problema dos trabalhadores e empresários, não do governo. Lula lembrou que, há alguns meses, as centrais sindicais foram ao Planalto pedir a sua ajuda para debater a redução da jornada de trabalho. Ele orientou os sindicalistas a saírem às ruas, fazerem manifestações e coletarem assinaturas para um projeto de iniciativa popular. "Não fiquem esperando que o governo faça tudo", alertou Lula.
O debate sobre a flexibilização da legislação trabalhista, que havia sido lançado por Guilherme Afif, secretário de Trabalho do governo paulista, foi tratado pela primeira vez na reunião de Lula com os empresários na semana passada e voltou à tona depois de uma entrevista dada no fim-de-semana pelo presidente da Vale, Roger Agnelli. Lula repetiu ontem que o governo fará de tudo para assegurar o emprego dos trabalhadores. E pediu maturidade entre empresários e sindicalistas para que, quando as empresas começarem a enfrentar momento de crise, os trabalhadores não sejam punidos.
O presidente foi irônico ao ser questionado sobre a possibilidade de extensão, de cinco para dez meses, do pagamento do seguro-desemprego. "Os empresários poderiam pagar com parte dos lucros que acumularam", disse. Lula afirmou que o Executivo não vai se eximir das responsabilidades, mas disse que nenhum empresário tem motivo para demitir trabalhadores neste momento. "Tem que se ter compreensão de que todo mundo está preocupado com a crise e que todos temos que ter como prioridade que a parte mais fraca da cadeia não seja prejudicada."
Em relação às demissões na Vale, Lula disse que se as empresas resolverem mandar embora os empregados por causa da redução de demanda na China, a economia ficará vulnerável demais. Afirmou ter pedido explicações a Agnelli, e que executivo explicou que as demissões feitas já estavam previstas, "por conta de mudança e inovação administrativa que fizeram".
O período de Natal não seria, na opinião do presidente, um bom parâmetro para medir a situação do emprego, porque as indústrias pararam as contratações. "Agora, estamos vivendo momento de Natal, nessa época já pararam as contratações nas indústrias, porque produzem bastante até outubro e fazem estoque para vender no Natal." Ele acredita que a partir de janeiro e fevereiro será possível ter um sinal mais preciso do comportamento da economia. Acrescentou que as medidas anunciadas recentemente pelo governo têm uma função preventiva "para que a gente possa estimular a continuidade dos investimentos no primeiro trimestre de 2009".
Lula mantém a esperança de que o Natal dos brasileiros não seja tão amargo quanto o de outros países. Disse que não é hora de o empresariado buscar margens de lucro. "O papel do empresário agora é trabalhar junto com o governo para que a gente evite que a crise chegue à toda sociedade."
Fonte: Valor Online