Com a Marcha de Abertura, começa nesta terça-feira (24), às 17 horas, em Porto Alegre, o Fórum Social Temático (FST) 2012, ligado ao Fórum Social Mundial (FSM). Com o tema Crise Capitalista, Justiça Social e Ambiental, o FST se estende até domingo (29) com mais de 1.000 atividades na capital gaúcha, Canoas, São Leopoldo e Novo Hambugo.
O trajeto da marcha pelas ruas da cidade repetirá edições anteriores do FSM. A passeata passará pelas avenidas Borges de Medeiros e Ipiranga, seguindo até o Anfiteatro Por-doSol, às margens do Rio Guaíba.
O FST deverá ser uma prévia da Cúpula dos Povos, encontro de movimentos sociais paralelo à Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, que acontece em junho.
Porto Alegre deve receber cerca de 30 mil pessoas, segundo estimativas da organização. Desde 2010, as atividades do FSM acontecem de forma descentralizada nos anos pares e centralizadas em anos ímpares. Além do FST em Porto Alegre, mais 25 eventos devem compor a agenda do FSM em 2012, de acordo com o coordenador do comitê organizador do FST, Mauri Cruz.
"Serão atividades espalhadas pelo mundo, em todos os continentes. E a expectativa é que a edição centralizada de 2013 seja em um país da Europa, que sempre teve participação ativa no processo, mas nunca sediou um fórum", adiantou.
Organizado por movimentos sociais e organizações da sociedade civil, o FST deverá ser palco de discussões sobre a crise financeira e do atual modelo de desenvolvimento econômico em contraponto a alternativas de crescimento mais sustentável. O foco será a Rio+20, na tentativa de influenciar os resultados da conferência, com a apresentação de propostas alternativas às que serão levadas pelos governos.
"Nossa preocupação é que a chamada economia verde [proposta central da Rio+20] seja apenas um novo rótulo para um mesmo modelo de desenvolvimento, com concentração de riqueza, centrado no consumo, que não distribui renda. Para nós, debater a Rio+20, é debater a crise capitalista", avaliou Cruz.
Apesar do caráter "não governamental e não partidário" dos eventos ligados ao FSM, definido em sua Carta de Princípios, a reunião também deve atrair lideranças políticas, como o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. A presidenta Dilma Rousseff deve ir a Porto Alegre na quinta-feira (26) para participar de um diálogo com a sociedade civil e pelo menos sete ministros do governo estarão em eventos do FST ao longo da semana.
A extensa programação do FST inclui debates, oficinas, exposições e apresentações culturais, na maioria atividades autogestionadas, organizadas por movimentos sociais, centrais sindicais e organizações não governamentais, com destaque para a crise do capitalismo.
Entre os nomes confirmados para o megaevento, estão figuras conhecidas do FSM, como o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos e o jornalista e escritor espanhol Ignacio Ramonet. Também devem marcar presença ativistas de movimentos sociais, como a Primavera Árabe, as manifestações estudantis chilenas, o Occupy Wall Street e os indignados da Espanha.
Contraf-CUT presente no FST
A Contraf-CUT promove em parceria com o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, Fetrafi-RS e CUT-RS dois eventos durante o FST. Um ocorre na sexta-feira (27), às 14h, acerca da crise internacional e da regulamentação do sistema financeiro. O outro acontece nesta quarta-feira (25), às 16h30, sobre a privataria tucana no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Os debates serão realizados no auditório da Casa dos Bancários, na Rua General Câmara, 424, no centro de Porto Alegre. A participação é aberta a todos os interessados.
"Com essas duas atividades, vamos contribuir com as discussões sobre a crise capitalista, mostrando os efeitos nefastos da falta de regulação do sistema financeiro. Também vamos resgatar o processo de privatizações no governo tucano, que saciou o apetite dos banqueiros com a entrega de vários bancos públicos, como o Banespa, Banerj, Bemge, Banestado e Meridional, dentre outros", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
"Ao mesmo tempo, vamos apontar a necessidade de regulamentar o sistema financeiro, de modo que atenda aos interesses da sociedade, e reforçar a luta pela instalação da CPI da Privataria na Câmara dos Deputados, cujo requerimento já foi protocolado e deverá ser analisado após o recesso, no início de fevereiro", salienta o dirigente sindical.
Regulamentação do Sistema Financeiro
A oficina contará com palestra da professora Maria Alejandra Madi, economista (USP) e doutora em Economia (Unicamp). Ela atua no Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas nas áreas de Macroeconomia, Finanças e Desenvolvimento Econômico desde 1983. É atualmente é vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil.
Desde 1990, Maria Alejandra vem participando de oficinas, congressos e fóruns nacionais e internacionais promovidos pela Contraf-CUT, sindicatos, redes e centrais sindicais. Tem artigos e capítulos de livros publicados no Brasil e no exterior abordando a regulação e dinâmica dos sistemas bancários, assim como os impactos das transformações estruturais do sistema financeiro na economia e na sociedade brasileira.
"A regulação dos sistemas financeiros situa-se no centro dos debates econômicos contemporâneos na medida em que as exigências de capitalização derivadas dos Acordos de Basiléia não foram suficientes para evitar a crise financeira global", destaca a professora.
"O esforço de mitigar o impacto das tensões desestabilizadoras da dinâmica financeira sobre a sociedade requer repensar o perfil de atuação do Banco Central, o escopo da regulamentação prudencial e de proteção, além do papel dos bancos públicos", defende.
Privataria tucana
As entidades promoverão o lançamento no Rio Grande do Sul do livro "A Privataria Tucana", com a presença do autor, jornalista Amaury Ribeiro Jr. Trata-se do livro de não ficção mais vendido no país há algumas semanas, fato que até a revista Veja não pode esconder.
Em 344 páginas, Amaury conta com detalhes e comprova com documentos e indícios de um esquema bilionário de fraudes no processo de privatização de estatais na década de 1990. José Serra era o ministro do Planejamento, gestor do processo.
O jornalista acusa o ex-caixa de campanha do PSDB e ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil, Ricardo Sérgio de Oliveira, de ter atuado como "artesão" da construção de consórcios de privatização em troca de propinas.