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NA CRISE, APERTE O CINTO

Itaú e Unibanco anunciam fusão. Vale demite 1,3 mil e dá férias coletivas a 5,5 mil funcionários. Governo quer atuar para reduzir demissões. Comissão de Orçamento prevê corte de R$ 1,1 bilhão em despesas. Redução de custo tira o sono de empresários e executivos. Tais notícias, estampadas nas páginas do Valor nos últimos dois meses, são reflexos de uma economia que perde fôlego em conseqüência do aperto de crédito internacional. Para o brasileiro, estes são indícios de que o fantasma do desemprego pode bater à sua porta, o que sugere que é hora de se munir de estratégias para proteger o bolso e amenizar os efeitos de uma eventual interrupção de renda no avançar de 2009.

Constituir um colchão de reservas em investimentos conservadores e de liquidez, adiar aquisições e cortar algumas despesas são indicações recorrentes entre os planejadores financeiros. "É o momento de olhar a crise como oportunidade para se organizar e aprender a lidar melhor com o dinheiro", diz a economista Myrian Lund, professora da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ).

O primeiro passo para disciplinar as finanças pessoais, sugere, é fazer uma planilha que inclua receitas e despesas. Ao listar gastos como moradia, alimentação, educação, saúde e lazer, é possível identificar em que linha dá para fazer algum tipo de economia. Tudo aquilo que for excedente deve ser guardado, não importa o tamanho do orçamento, mesmo que a sobra resuma-se a R$ 50,00 por mês. "O importante é fazer uma poupança sistemática", aconselha. O ideal é economizar pelo menos 10% dos vencimentos mensais, dica que também vale para o 13º salário. Se tiver alguma necessidade iminente de consumo, é preciso compensar aquele gasto com algum outro tipo de economia.

Apertar o cinto não significa cortar tudo ou parar a vida, ressalva Myrian. Isso porque se não dá para pensar em aumento de salário e no dinheiro do ano que vem, é preciso buscar o equilíbrio e só assumir, por exemplo, prestações que efetivamente caibam no bolso, evitando o empilhamento de dívidas. As iniciativas de responsabilidade financeira não têm de ser tomadas, necessariamente, por conta da crise, pois deveriam fazer parte da rotina de qualquer pessoa, afirma o consultor Gustavo Cerbasi, autor de livros como "Investimentos Inteligentes" e "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos".

Um dos preceitos básicos é ter uma reserva de segurança correspondente a três meses da renda mensal em alternativas de liquidez para os diversos tipos de crise que podem acometer a vida econômica de uma família: um acidente, uma doença, o desemprego ou mesmo uma separação, situações que geralmente requerem ajustes na rotina. "Quem é muito auto-confiante e passa os seus dias consumindo tudo o que ganha não pode estar confortável", afirma Cerbasi. Já a crise econômica nesta virada de 2008 para 2009 pode ser um pretexto para um Natal mais criativo e menos dispendioso. Conforme sugere, aquisições de eletrodomésticos, veículos, moradias ou a redecoração da casa devem ser repensadas.

Mesmo que o consumidor tenha dinheiro para trocar de carro ou imóvel agora, se esperar terá chance de comprar o bem mais barato no primeiro trimestre de 2009 em em função do desaquecimento das vendas, acredita o diretor-executivo de finanças pessoais da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), Louis Frankenberg. "Será um ano complicado, com exportadoras vendendo menos, bancos demitindo e empresas com produtos mais luxuosos reduzindo o ritmo; o desemprego é um contratempo que deve ser considerado", afirma.

Prova disso, admite Frankenberg, é que ele mesmo aconselhou a um de seus clientes, que tem contrato anual de fornecimento com uma grande empresa, a enxugar a folha de pagamentos ao mínimo necessário por não ter segurança de que tal prestação de serviços prosseguirá em 2009. "Em momentos como o atual, é melhor exagerar na dose de conservadorismo do que ser otimista demais." No orçamento pessoal, ele sugere cortes em gastos como celulares e restaurantes, itens que normalmente têm alguma gordura.

No limite do possível, é recomendável trazer o consumo para um nível mais próximo do essencial, perto daquilo que represente um padrão mínimo de vida, acrescenta o especialista em finanças Maurício Gentil. Essa conta inclui escola, alimentação, refeições fora de casa e até as idas ao cinema. "Se saio oito vezes por mês para jantar, posso muito bem passar a ir uma ou duas vezes, não é para cortar o lazer totalmente."

A questão é que num cenário em que as restrições de crédito ficam em evidência, a disciplina financeira deve ser amplificada. Para Gentil, um ambiente como o atual quer reservas que garantam o padrão mínimo de vida da família por um período de seis a oito meses. "Depois de uma economia próspera por cinco, seis anos, com farto apelo ao consumo, acho razoável que, num ciclo de recessão e restrição do emprego, as pessoas reduzam o padrão de gastos para enfrentar a crise com tranqüilidade." Ele sugere um Natal espartano, a fim de encarar a carga pesada de despesas que chega no início do ano, evitando novas dívidas. "As pessoas que fazem uso indiscriminado do crédito são punidas no ciclo de retração."

O superintendente de Investimentos do Banco Real, Eduardo Jurcevic é ainda mais conservador e considera que uma poupança de segurança para tempos difíceis deve equivaler a 12 meses da renda. Se na ativa, o trabalhador ganha R$ 5 mil por mês, o ideal é que tenha R$ 60 mil guardados. Mas poucos têm essa disciplina.

 Por Adriana Cotias, Valor Online

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