Nos dias 9 e 10 de dezembro, o Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região sediou a “Oficina de Organização do Ramo Financeiro”, promovida por este sindicato e pela Fetrafi-RS. O evento reuniu dirigentes sindicais de todo o estado para debater a reestruturação do setor financeiro no Brasil, com foco especial no Rio Grande do Sul.
O encontro teve como objetivo central discutir estratégias para mapear e organizar os trabalhadores do ramo financeiro. “A proposta é integrar esses profissionais, a partir desse mapeamento, às bases territoriais das entidades sindicais, ampliar a sindicalização, enfrentar a terceirização e fortalecer a atuação conjunta das organizações”, explicou Luís Cassemiro, diretor do SindBancários Porto Alegre e mediador do debate.
Consórcio Sindical
Em sua fala de abertura, o diretor de Comunicação da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo, destacou que as dificuldades enfrentadas pelo Movimento Sindical são “históricas e estruturais”, resultado de um modelo que fragmenta a classe trabalhadora e limita a ação sindical. Para ele, enfrentar esse cenário exige a atualização e o fortalecimento de um “sindicalismo combativo”, capaz de superar a lógica de categorias isoladas e ampliar a organização para todo o ramo financeiro.
O debate também abordou o contexto de intensificação dos ataques aos trabalhadores, com o uso da tecnologia para reduzir custos, ampliar o controle e eliminar postos de trabalho. “Esse processo tem provocado o encolhimento da categoria bancária e da base sindical, agravado pela reforma trabalhista. Apesar de alguns avanços recentes, como a taxa negocial, o direito de oposição individual volta a ameaçar as formas de financiamento coletivo das entidades”, enfatizou Bacelo.
Mesmo diante de uma conjuntura política um pouco mais favorável, o sindicalista observou que o Congresso Nacional segue majoritariamente conservador, o que impõe limites às mudanças estruturais. “Nesse cenário, alternativas como o consórcio sindical surgem como caminhos concretos para fortalecer a organização e a atuação conjunta dos sindicatos”, concluiu.
O presidente do SindBancários de Porto Alegre, Luciano Fetzner, ressaltou que esse debate é hoje tão central quanto a formação política, a comunicação sindical e o enfrentamento às novas tecnologias. “Encontro recente do Núcleo Piratininga de Comunicação reforçou que os principais desafios do Movimento Sindical se repetem: divisão, pulverização e dificuldade de unificar lutas”, lembrou.
Para Fetzner, essa fragmentação é resultado de uma estratégia permanente do grande capital de dividir os trabalhadores para manter a dominação. No ramo financeiro, isso se expressa na separação entre trabalhadores celetistas, terceirizados, pejotizados e cooperativados, o que enfraquece a consciência coletiva e a organização sindical.
Diante desse quadro, ele defendeu a urgência de “aprofundar o debate do ramo como caminho para reconstruir a unidade da classe trabalhadora, enfrentar a redução da base sindical e fortalecer a capacidade de luta”. Fetzner citou alternativas como o consórcio entre sindicatos, a reestruturação do Movimento Sindical e o foco na mobilização, na unidade e na pressão política — e não apenas na judicialização. “A esfera judicial deve ser apenas uma instância”, defendeu.
Mapeamento do Dieese
Encerrando o debate inicial, Magali Fagundes, secretária de Organização do Ramo Financeiro e Política Sindical da Contraf-CUT, destacou o desafio crescente de organizar um ramo financeiro cada vez mais fragmentado. Segundo ela, um mapeamento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) evidenciou o encolhimento da categoria bancária e a expansão de fintechs, cooperativas, correspondentes bancários e trabalhadores terceirizados, que passaram a exercer funções dos bancários. “O objetivo do levantamento é permitir que sindicatos e federações conheçam o tamanho real de suas bases e orientem melhor suas estratégias de organização”, informou.
Magali alertou que, sem o envolvimento direto das direções sindicais e a presença nos locais de trabalho, a representação desses trabalhadores continuará sendo perdida. Segundo ela, o Movimento Sindical deixou de avançar no passado na organização da terceirização e das cooperativas, o que contribuiu para o enfraquecimento da categoria bancária.
Apesar das resistências internas, defendeu a necessidade de incorporar novos segmentos, mesmo com acordos diferenciados, como forma de ampliar direitos e evitar a perda de representação. Nesse sentido, destacou o Coletivo Nacional do Ramo Financeiro como espaço estratégico para debater a reorganização sindical, discutir mudanças estatutárias e construir alternativas capazes de fortalecer o ramo financeiro de forma coletiva e integrada.