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PROFESSOR DA UFRGS ANALISA REVOLUÇÕES SOCIALISTAS DO SÉCULO XX

Segundo módulo do Diálogos para Ação ocorreu na última sexta-feira

Fetrafi-RS e SindBancários promoveram na última sexta-feira, 27, o segundo módulo do Diálogos para Ação 2012. A atividade envolveu dirigentes e delegados sindicais da Caixa, Banco do Brasil e Banrisul. Pela manhã houve palestra com o professor do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFRGS, Luis Gustavo Mello Grohmann. O docente fez um panorama dos fundamentos da perspectiva marxista em processos democráticos, com ênfase para as revoluções socialistas.

Segundo o professor é preciso contextualizar as revoluções no bojo do crescimento do próprio capitalismo. "Essas revoluções não se confundem com simples manifestações de desconforto no âmbito da política. Estou falando de grandes revoluções como a inglesa, que ocorreu em duas etapas e teve como fundamento a reformulação da relação da sociedade com o rei, que gerou a monarquia parlamentarista. Ou seja, o parlamento se tornou o efetivo representante do povo e governante do país. Trata-se de uma revolução que provocou uma transformação profunda e tornou a burguesia o setor dominante", explica.
Luis Gustavo cita em seguida a revolução americana, que foi a grande guerra de liberação colonial, visando a transformação na ordem política e estabelecendo uma perspectiva federalista e a fundação de um novo sistema político. O professor também observa que a revolução francesa definiu mais claramente uma cara moderna para o processo revolucionário. "Não trata somente de transformações políticas com a retirada do rei, mas aponta para transformações sociais. Esta é a grande revolução e marca de forma muito profunda os anos seguintes naquele país. Esta marca vai se refletir sobre as proposições socialistas e tradição revolucionária fica na França de maneira pujante", explica.

O docente diz que a ideia de revolução não pode ser confundida com revolta ou golpe militar, mas implica em dois conceitos. O primeiro deles é caracterizado por fenômenos de curto prazo, através do processo de obtenção do poder político, que pode ser conduzido pela sociedade como um todo ou por um programa determinado, com envolvimento de transformações na ordem do regime podendo avançar para transformações de ordem social. "Outro conceito está relacionado por fenômenos de largo prazo, com impacto mais profundo e transformações as ideologias, na extratificação da sociedade e nos modos de produção", analisa.

O professor diz que nas revoluções o proletariado destrói as bases de subsistência da burguesia, consolidando-se enquanto classe e desenvolvendo sua ação política. Para ele, o teórico Karl Marx percebe tudo isso com o olhar sobre a realidade europeia e tem uma concepção que junta os dois aspectos de revolução, desde o momento de assalto ao poder, com a alteração do regime, mas percebe que o proletariado é portador de uma força que vai além da tomada de poder. Após este momento, avança no sentido de transformar o modo de produção capitalista em socialista.

"Quando o Marx escreve sobre o processo revolucionário, ele escreve tanto no modelo de curto prazo quanto para o de largo prazo. No campo da filosofia ele coloca que as ideias e o espírito, enquanto maneira de ver o mundo, têm a capacidade de se transformar em força material, na medida em que podem gerar ações de atores determinados. No entanto, essa eficiência das ideias vai depender do momento histórico, da realidade material que precisa estar de acordo com o momento histórico", enfatiza.

Para Luis Gustavo, as revoluções seriam as forças capazes de superar as contradições do mundo real. "Marx prevê que o indivíduo nesse contexto tem grandes chances de mudar a realidade. No campo da economia nós temos outra inflexão do Marx, que é a concepção do modo de produção capitalista. As forças produtivas devem estar mais ou menos de acordo com as relações de produção existentes e há um determinado momento em que as forças de produção precisam superar as relações de produção, que permitem ao capitalista abarcar as riquezas", analisa.

De acordo com o docente, esse aparato de exploração capitalista é garantido pelo Estado e pelo direito legal. "Enquanto não houver um crescimento das forças produtivas, que coloque em xeque as condições de produção, não há condição de contrapor as relações de produção. Na concepção de Marx esse momento estava chegando através da luta operária da época, que se revoltava contra as condições abjetas de produção".

Luis Gustavo salienta que no campo da política, Marx vai tratar o proletariado como principal ator capaz de transformar o sistema burguês e capitalista numa efetiva democracia. "Quando ele revela o proletariado capaz de executar transformações profundas, Marx aponta o proletariado como capaz de transformar as sociedades. Ele articula o conceito de classe em duas dimensões e a primeira delas é a da classe em si, ou seja, a classe que existe em sua condição material e concreta. Já a outra dimensão é a da classe para si, que é quando o operário toma consciência que ele está em um processo de exploração e precisa mudar o mundo. É quando a classe reconhece que é capaz de assumir a consciência de si própria dentro da sociedade. Neste sentido, precisa romper com as ideias que invertem a compreensão da realidade".

Conforme o palestrante, Marx também faz referência ao partido, referindo-se a um grupamento de certos valores, que não se limita a entender o mundo. "Não adianta você ter boas ideias. Elas precisam se transformar em prática para serem testadas na realidade. Este partido é aquele setor que claramente tem isto em sua mente, que o proletariado é o grande protagonista e que é preciso juntar isso com a ação concreta. Isto vai estar evidenciado dentro daquilo que Marx considera como o partido comunista".

Para o professor, na concepção de Marx, a função do partido é mais ampla e não vai substituir a ação revolucionária. Segundo ele, o grande exemplo para o Marx é a comuna de Paris, que enquanto movimento teve uma força tremenda. "Era nisso que ele confiava muito, no proletariado como um movimento amplo de toda uma classe. Ele não confiava em destacamentos iluminados que fossem substituir a ação do proletariado revolucionário", avalia.

*Fetrafi-RS

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