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PROVÁVEL ELEVAÇÃO DA TAXA DE JUROS DEVE AGRAVAR A CRISE ECONÔMICA

Economista André Roncaglia (Unifesp) afirma que não é hora do BC elevar a taxa básica de juros. Além do impacto reduzido nas expectativas de inflação, provável elevação da Selic vai piorar o quadro fiscal e complicar ainda mais a vida das empresas e das famílias

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide nesta quarta-feira (17) se mantém, ou vai elevar, a taxa básica de juros. Hoje, a Selic está fixada em 2% ao ano. Mas os porta-vozes do mercado financeiro apostam numa elevação de até 0,5 ponto percentual. A expectativa da autoridade monetária é tentar “acalmar” os investidores quanto às perspectivas de aumento de inflação no médio prazo. Mas, no momento em que a atividade econômica encontra-se combalida em função dos efeitos da pandemia e da inação do governo federal, esse remédio amargo pode debilitar ainda mais o paciente, sem atacar, de fato, a origem da doença.

De acordo com o economista André Roncaglia, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a elevação da taxa de juros, nesse momento, seria uma espécie de “cloroquina econômica”. Não só não vai ter impacto na trajetória da inflação, como vai deteriorar o quadro fiscal, já que a correção da Selic vai impactar diretamente no custo do financiamento da dívida pública.

Além disso, a vida dos empresários também deve ficar mais difícil com o provável aumento dos juros básicos, por conta do encarecimento do crédito. Com empréstimos mais caros, manter ou ampliar os negócios fica ainda mais complicado, com impactos inclusive para o emprego. Na mesma linha, as famílias também devem sofrer, pois pagarão mais em caso de endividamento.

Ineficácia

O principal motivo que faz Roncaglia acreditar que a subida da taxa de juros não surta o efeito pretendido são as causas do atual surto inflacionário. Diferentemente de quando a economia está aquecida e há aumento da demanda por produtos e serviços, a aceleração dos preços nesse momento se deve a um “choque de oferta” ou por “fatores externos”. O choque de oferta se dá em função da própria pandemia, que desorganizou as cadeias produtivas, no Brasil e no mundo. Dentre os fatores externos, o economista destaca a volatilidade cambial, com a desvalorização do real frente ao dólar.

“A economia brasileira está com um nível de ociosidade muito elevado. O setor de serviços, que representa sete em cada dez reais produzidos, ainda está muito paralisado por conta da pandemia. Inclusive diversas cidades estão adotando medidas ainda mais restritivas. Então, a elevação do juro nesse momento torna muito mais difícil a recuperação da economia”, afirmou o economista.

“Ao subir o juro de curto prazo, o BC está onerando, tornando mais caro o pagamento de serviços de juros da dívida pública, que só no ano passado teve uma elevação de 14%, saindo de 75% para quase 90% do PIB”, acrescentou.

Já o impacto direto sobre o câmbio, Roncaglia prevê que será “muito modesto”. Ele atribuiu essa volatilidade não apenas à incapacidade do governo federal em conter a pandemia. As pautas ambiental e de direitos humanos também preocupam os investidores. Ou seja, apesar do aumento da liquidez nos mercados desenvolvidos, os investidores estão preferindo apostar em títulos do governo dos Estados Unidos. “Ninguém está querendo colocar dinheiro em outros lugares, principalmente num país que não consegue sair da pandemia”, afirmou.

Medo e delírio em Chicago

O professor da Unifesp criticou, ainda, o ministro da Economia, Paulo Guedes, por atribuir o aumento da inflação ao pagamento do auxílio emergencial. O ministro chegou a afirmar que, se fosse mantido o valor de R$ 600, como no ano passado, seu temor era de que a inflação se generalizasse, atingindo a casa dos dois dígitos. Para Roncaglia, não se trata apenas de desonestidade intelectual, ou uma visão limitada e ultrapassada de um quadro oriundo da Escola de Chicago (expoente do neoliberalismo nas décadas de 1970 e 1980).

“Dizer que as famílias que estão absolutamente impedidas de trabalhar, por conta de uma crise sanitária que não é culpa delas, que esse dinheiro é o que causa a inflação – sem considerar tudo que está no meio de um sistema complexo, como é a economia brasileira – é um problema moral. É um problema de caráter. E deixa evidenciado, junto com as outras políticas do governo, que não existe nenhuma preocupação, nenhuma prioridade à vida. Não existe economia sem vida humana, sem saúde.”

Erros

Muito mais do que os recursos destinado à sobrevivência das famílias durante a pandemia, Roncaglia aponta políticas equivocadas na regulação dos preços dos alimentos, com a extinção dos estoques reguladores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Além disso, outro fator que tem pressionado os índices de inflação é a política de preços dos combustíveis adotada pela Petrobras. Em vez de compreender que o petróleo e seus derivados são “estratégicos” para a economia, a direção da empresa optou, desde 2016, por atrelar os combustíveis às variações do mercado internacional.

“A questão, evidentemente, é o governo parar de fazer pirotecnia ideológica, que gera volatilidade do câmbio, e tentar auxiliar no que puder pra estabilizar a economia. E não ficar fazendo jogo político, no meio da maior crise sanitária e econômica do século”, conclui o economista.

FONTE: REDE BRASIL ATUAL

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