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QUANDO O NOVO SINDICATO PRECISA VOLTAR A SER VELHO

Terceiro módulo do Diálogos para Ação debateu organização e mobilização

Afinal aonde vai o sindicalismo? Existe uma tendência dominante a dar uma direção à luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho? De certo modo, o professor Vito Giannotti ainda não respondeu a estas duas perguntas na manhã da sexta-feira, 23 de agosto, durante a primeira parte do terceiro módulo do Curso de Extensão que o SindBancários e a Fetrafi-RS promovem dentro do Projeto Diálogos para Ação. O que ficou claro é que não há nova roda a ser inventada, sequer um grande pulo do gato a ser ensinado aos sindicalistas que travam a luta diária contra a exploração secular dos empregados pelos patrões.

Antes de tentar responder a estas duas perguntas é preciso dizer que elas não são questões fáceis. E não por serem simples, mas por serem complexas. Vito voltou aos dois primeiros módulos do curso de formação e extensão do Diálogos para Ação. Por cinco horas, nesta sexta-feira, 23/4, falou do efeito que a Revolução Industrial exerceu sobre a vida dos trabalhadores europeus a partir do século 18, das lutas que se estabeleceram no período, tangenciou a luta dos trabalhadores brasileiros um século depois da Europa e falou do que vai continuar contando neste sábado, 24/8, a partir das 9h, na Casa dos Bancários.

Como os sindicatos passaram de associações proibidas por leis nacionais em todo a Europa, nos séculos 18 e 19, a entidades que precisam voltar a pensar não apenas em sua categoria, mas nas lutas que as classes sociais pobres travam contra aqueles que os exploram. Precisa olhar para a jornada de junho e tirar lições das ruas. No terceiro módulo, "Concepção e Prática Sindical", Vito mostra a origem dos sindicatos, sua fusão com partidos políticos socialistas e comunistas, a repressão dos trabalhadores até os dias atuais, com o novo sindicalismo, o papel das Centrais Sindicais a partir dos anos 1980 e para onde vai o sindicalismo do século 21.

Na verdade, para onde "vai" não é bem o termo a ser empregado no sindicalismo moderno. Mas para onde volta. E volta às suas origens. "Os sindicalistas e os sindicato precisam trabalhar muito. E não só isolados nas suas categorias. Tem que juntar as outras categorias. O bancário precisa chamar o metalúrgico para participar das passeatas, das atividades de formação e tem que ir nas atividades de protesto dos metalúrgicos", ensina Vito Giannotti.

Mas qual a tendência? Como o contador de histórias das lutas dos trabalhadores Vito responde isso com uma de suas histórias? Basta pensar por exemplo que a insatisfação com a saúde é geral. E que todo o sindicalista tem um vizinho. Então, estamos todos no mesmo barco. Nossos salários estão achatados. Sofremos nos nossos ambientes de trabalho. Será que não conseguimos chamar gente igual a nós para a luta?

"Trabalhador tem que se unir além da luta sindical. Qual é o papel dos sindicatos? Defender o interesse dos trabalhadores. E como defende? Com greve. A greve sempre foi a grande arma dos trabalhadores. Greve não é ficar em casa. Greve é greve de dia e manifestação de no fim do dia. O sindicalista não pode chegar sozinho numa passeata, numa greve. Tem que levar mais gente junto sempre. Tem que trabalhar o convencimento", diz Vito Giannotti.

 

Um exemplo

De fato, ficou claro, no início da palestra, qual a opinião de Vito sobre o futuro do sindicalismo brasileiro. O segredo está no retorno às origens. Então, voltemos a 1848. Por que este ano? Porque foi na metade do século 19 que a segunda obra mais lida depois da Bíblia na história da humanidade foi publicada. Karl Marx escreveu uma pequena cartilha para a Liga dos Trabalhadores de Londres. Seu "Manifesto do Partido Comunista" deixava claro o objetivo de um sindicato. Unir-se à luta política junto com um partido e não só convocar os trabalhadores. Eis que a última e mais célebre das frases já dizia "Proletários de todos os países, uni-vos".

Reparemos bem. Marx escreve a palavra proletários, não trabalhadores, como algumas versões sustentam. Portanto, é coerente com a luta de classes, a tese que ele defende ao longo de sua vida. Foi esse também o ponto de partida da fala do diretor de formação do SindBancários, Luciano Fetzner, na abertura dos trabalhos nesta sexta. Luciano é bancário do Banrisul e também ativista que faz parte do Bloco de Luta pelo Transporte 100% público em Porto Alegre.
Segundo ele, o SindBancários está desde o início do ano engajado na luta da juventude, por ter compreendido a dimensão dos protestos pelo transporte público. "Como dirigentes sindicais temos que pensar na luta da nossa categoria. Os bancários são uma categoria que sofre muito porque travamos uma luta direta contra aqueles patrões que representam diretamente o capitalismo e que fazem de tudo para tirar nossos direitos. E têm muitos recursos materiais para nos enfraquecer. Por isso a importância de chamarmos outras categorias, outras instâncias de luta para nos ajudar", explicou Luciano.

 

*SindBancários

 

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