Depois de demitir centenas de milhares de trabalhadores nos primeiros meses da crise econômica, o Brasil voltou a criar novas vagas de emprego a partir de fevereiro. No acumulado do ano até setembro, o saldo entre admitidos e demitidos foi positivo em 933 mil vagas. Os novos empregos gerados no pós-crise, contudo, foram para baixos salários – o saldo só foi positivo para a criação de vagas com pagamentos inferiores a dois salários mínimos. Assim, o Brasil deixa a recessão e caminha para uma taxa de crescimento do PIB próxima a 5% em 2010, mas está fazendo isso sem criar vagas com remuneração superior a R$ 1 mil, segundo dados do Ministério do Trabalho, disponíveis até setembro. Em outubro, mais 231 mil vagas foram criadas, mas seu perfil salarial ainda não está detalhado no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A primeira reação das empresas à crise foi reduzir o custo da folha de pagamento pela demissão dos funcionários de salários mais altos e, quando necessário, abrir novas vagas com salários menores. Esse movimento fica transparente na avaliação do acumulado de novas vagas abertas em 2009. De janeiro a setembro, o saldo positivo de 933 mil empregos foi composto por 427 mil vagas até um salário (45% do saldo final ) e 931 mil empregos até dois mínimos (99,8%), contrabalançados pelo fechamento líquido de 425 mil vagas com salários superiores a dois mínimos.
Em igual período do ano passado, as mesmas faixas de remuneração responderam, respectivamente, por 25,1% e 75% dos novos empregos. Em 2008, o saldo das vagas entre dois e três salários mínimos foi positivo (2,2%), enquanto o resultado este ano foi negativo (-18%), com o corte final de 168 mil vagas nesta faixa de remuneração no período janeiro-setembro.
O saldo negativo na geração de empregos com salários mais elevados, porém, não é um fenômeno desencadeado pela crise mundial. Nos primeiros nove meses de 2008, quando o Brasil crescia a taxas de 6% ao ano, também havia mais demissões que contratações nas faixas superiores a três mínimos. O acirramento das turbulências mundiais, contudo, serviu de gatilho para acelerar esse processo. Nos primeiros nove meses de 2009, o total de vagas fechadas na faixa acima de dez mínimos (mais de R$ 4,6 mil) correspondia a quase 5% do total de vagas abertas, percentual que no mesmo período de 2008 ficou em 0,6% do total.
No terceiro trimestre, a trajetória de criação de vagas mostra uma tênue inflexão, indicando menor participação no saldo final de vagas até um mínimo (21%) e de um até dois mínimos (90%). Também melhoraram as perspectivas para um emprego com salários mais altos. Na faixa salarial de dois a três mínimos, a perda média mensal de empregos caiu de 28 mil vagas, nos primeiros seis meses do ano, para 8 mil, de julho a setembro.
Para Alcides Leite, professor de economia da Trevisan Escola de Negócios, a tendência é que haja recuperação, nos primeiros meses de 2010, na categoria dos salários mais altos. "O problema, nesta faixa, se deu durante a crise. Os salários altos sofreram mais demissões, a participação deles no bolo diminuiu", afirma. Ao mesmo tempo, avalia Leite, deve haver crescimento sustentado da fatia dos que ganham salários menores, uma vez que setores como comércio varejista e construção civil – grandes empregadores – estão contratando muito e não sinalizam que vão diminuir o ritmo.
No ano passado, já havia ampliação, desde abril, nas faixas de menor escolaridade – analfabetos até 4ª série completa – e desaceleração naquelas de maior escolaridade – 2º grau e ensino superior -, movimento que é cortado a partir de outubro, primeiro mês após a explosão da crise.
ValorOnline