O Brasil continua criando novos empregos, apesar dos sinais de desaceleração da atividade econômica. O ritmo de geração de vagas formais, contudo, está mais fraco que em igual período do ano passado. Em setembro, o saldo entre admitidos e demitidos com carteira assinada resultou em 209 mil novos empregos, resultado 8,8% superior ao de agosto, mas 15,3% inferior ao verificado em setembro de 2010.
Esse desempenho do mercado de trabalho formal no mês passado foi analisado de forma diferente dentro do próprio governo. Para o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, o resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) de setembro foi forte e resultado do "ainda vistoso crescimento econômico" do país. Para uma fonte do alto escalão do mesmo Ministério do Trabalho, contudo, o resultado indica um "cenário turvo" para o último trimestre.
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No ano, o mercado de trabalho registrou a criação de dois milhões de postos de trabalho com carteira assinada. Este resultado leva em conta a série ajustada do Ministério do Trabalho para os dados mensais de janeiro a agosto, que incorpora as informações declaradas fora do prazo. Em igual período do ano passado, o Caged registrou a criação de 2,5 milhões de vagas formais. O ritmo de 2011, portanto, está 25% menor que o de 2010.
"A economia está sentindo hoje os efeitos defasados do aperto praticado desde o fim do ano passado", disse a fonte, que espera um último trimestre um pouco mais fraco do que já ocorre sazonalmente. Para a fonte, o começo de 2012 será influenciado por esse resultado menos positivo de outubro a dezembro, situação que não será revertida imediatamente no começo do ano, apesar da " forte elevação do salário mínimo, já contratada". Em um primeiro momento, diz ele, a alta do mínimo deve até causar reservas no empresário, que terá diante de si um começo de ano mais difícil do que fora o início de 2011 e salários mais altos.
A avaliação dos economistas de fora do governo é que o setor de serviços, que "sustenta" o mercado de trabalho formal neste ano, começará a perder força já na passagem de ano. Para José Francisco de Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator e professor da USP, o primeiro indicador de que o mercado de trabalho perde força foi dado pelo fraco desempenho da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) referente a agosto, divulgado na semana passada pelo governo. "Não há nenhum colapso", diz Gonçalves, "mas o resultado do varejo evidencia o desequilíbrio do mercado de trabalho".
Apenas nos primeiros nove meses deste ano, o setor de serviços gerou 840,2 mil empregos com carteira assinada – resultado ligeiramente inferior a soma dos saldos registrados no ano pela indústria de transformação, comércio e agropecuária. Em setembro, o setor de serviços gerou 91,7 mil postos de trabalho formais, percentual apenas 2,5% inferior ao de igual período de 2010.
Outros dois grandes empregadores, comércio e construção civil, geraram metade e 25% do saldo de serviços no mês, respectivamente. Enquanto o comércio gerou 42,3 mil vagas formais, o setor de construção civil criou 24,9 mil postos de trabalho com carteira assinada. Comércio criou 30% menos empregos formais que em setembro de 2010, mas no caso da construção, o volume foi maior esse ano.
O resultado da indústria de transformação em setembro (66,2 mil vagas ou 30% menos que em setembro de 2010) foi apenas inferior ao de serviços, mas o dado é muito influenciado por fatores sazonais – os meses de setembro e outubro tradicionalmente concentram a contratação de operários para fortalecer a produção e formação de estoques para as festas de fim de ano. Dentro da indústria, porém, têxteis e calçadistas contrataram 77% menos na comparação com setembro do ano passado.
Enquanto a agropecuária cortou menos vagas (20,8 mil) que no mesmo mês do ano passado (22,9 mil), a indústria extrativa mineral criou 1,8 mil vagas formais – o segundo melhor resultado para o mês na série histórica, inferior apenas a setembro de 2010.
Para o ano, o Ministério do Trabalho prevê a criação de 2,4 milhões de vagas formais, resultado que deve atingir até 2,7 milhões na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), que contabiliza também os estatutários e militares.
Valor Online