Sob pressão do presidente Lula para irrigarem o crédito no país após o congelamento do mercado na crise, os bancos públicos foram os que puxaram a expansão do crédito ocorrida no mês passado, quando as instituições financeiras privadas adotaram uma posição mais cautelosa e passaram a fazer fortes restrições à liberação de novos financiamentos.
Segundo dados do Banco Central, o volume de empréstimos oferecidos pelos bancos controlados pelo governo cresceu quase duas vezes mais do que no setor privado ao longo de outubro.
No mês passado, o tamanho das carteiras de crédito dos bancos públicos cresceu 5,2% na comparação com setembro, enquanto no mesmo período a expansão observada nas instituições privadas ficou em 1,8%.
Os bancos públicos respondem por pouco mais de um terço (35%) dos financiamentos fornecidos pelo sistema financeiro e são liderados por Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES. Mesmo não tendo a maior fatia do mercado, sua atuação foi decisiva para fazer com que o volume de crédito disponível no país chegasse a um valor equivalente a 40,2% do PIB (Produto Interno Bruto), o maior nível já registrado desde o início da série estatística do BC, em 1994.
Para Carlos Thadeu de Freitas, economista da CNC (Confederação Nacional do Comércio) e ex-diretor do BC, é normal que, em momentos de crise, os bancos públicos atuem para tentar normalizar a situação. "Está sobrando dinheiro no mercado, principalmente nos grandes bancos, mas ele não está chegando às mãos de quem precisa. É importante que os bancos públicos preencham esse vazio", afirma.
Freitas diz que, nas atuais circunstâncias, o setor financeiro pode preferir usar seus recursos para aplicar em títulos do governo federal em vez de emprestar ao setor privado, mas essa opção não faria sentido a um banco público, que já tem como controlador o próprio governo.
"Os bancos públicos estão fazendo o mesmo que o Fed (o BC americano) está fazendo nos Estados Unidos, que é injetar dinheiro no mercado. Por causa de restrições da legislação brasileira, o BC do Brasil tem uma atuação limitada nesses casos, e o papel acaba sendo exercido pelos bancos públicos", diz o economista.
Para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, a atuação mais forte dos bancos públicos "é momentânea" e deve durar enquanto as condições de mercado não se normalizam. Ele diz que as instituições financeiras podem assumir riscos um pouco maiores em suas operações porque contam com garantias maiores do que as que existem entre as instituições privadas. "O suporte do banco público é o Tesouro Nacional, se ele precisar reforçar o caixa, pode recorrer ao governo", diz.
Isso não significa, argumenta, que a maior concessão de empréstimos possa colocar em risco a saúde financeira dos bancos públicos. Agostini cita o empréstimo de R$ 2 bilhões da Caixa para a Petrobras como exemplo disso, já que se trata de uma operação fechada com uma empresa reconhecidamente sólida e que deve trazer lucros ao banco estatal.
Os números do BC mostram que a carteira de crédito dos bancos públicos cresceu mais do que a de bancos privados em todos os segmentos analisados, com destaque para a indústria, o setor de serviços e as operações com pessoas físicas.
Fonte: Folha de São Paulo