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BANCOS PÚBLICOS ESTÃO MAIS AGRESSIVOS

Em matéria de crédito, as micro, pequenas e médias empresas já viram uma pequena melhora no cenário a partir deste segundo trimestre. Essa é a avaliação dos bancos, agora que, na opinião geral, o pior da crise parece ter ficado para trás. O discurso otimista, porém, não arrefeceu nas instituições financeiras a aversão ao risco, que se traduz ainda em maior rigor na concessão ou na renegociação de empréstimos. As micro, pequenas e médias empresas que não conseguem sustentar um fluxo de caixa mínimo ou que não disponham de bens ou recebíveis (pagamentos futuros) para oferecer como garantias são candidatas certas a esperar na fila para conseguir novos recursos.

A notícia mais tranquilizadora veio com a publicação da MP 464, no dia 10 de junho. A medida provisória permite que o governo injete R$ 4 bilhões nos fundos garantidores de risco de crédito para MPEs, que serão formados pelo BNDES e Banco do Brasil. A expectativa é que esse aporte seja capaz de gerar R$ 45 bilhões em crédito para capital de giro, investimentos e exportações, permitindo que as empresas utilizem esses recursos como garantia para obter condições melhores na obtenção do crédito. Em abril, o Banco Central já havia adotado medidas para melhorar a vida dos bancos de médio porte, outra fonte de empréstimos para as MPE. Desde abril, por meio do programa RDB garantido, já foram levantados R$ 8 bilhões.

"Com essa medida o governo colocou uma pá de cal no problema da liquidez", afirma Maércio Soncini, vice-presidente do Banco Fibra. Graças a uma captação externa de US$ 450 milhões antes de setembro de 2008, a instituição conseguiu atravessar o ano com recursos em caixa. Mas, para isso, segurou a concessão de empréstimos. Dos cerca de mil clientes do Fibra, 30% são empresas com faturamento até R$ 50 milhões.

De forma lenta, como aponta relatório do HSBC, os bancos de médio porte estão obtendo recursos no exterior. Nos três primeiros meses do ano, essas instituições conseguiram captar pouco mais de US$ 500 milhões.

"Pior do que o enxugamento do mercado foi a falta de visibilidade em relação ao futuro", diz Soncini. Para ele, o quadro melhorou e agora os parâmetros para avaliação da crise já estão mais definidos. Em linguagem simples, significa que os bancos já sabem qual o custo real a ser embutido nas operações. A má notícia é que, embora estejam caindo, os juros e o spread ainda continuam maiores do que no período anterior à crise. Ou seja, o dinheiro ainda está caro.

A maioria dos bancos precisou aumentar suas provisões para risco de crédito, em função do aumento da inadimplência, que subiu, na média geral do sistema financeiro, de 4,6% em janeiro para 5,2% em abril. Mas a tendência já mudou, de acordo com os dados da Serasa Experian. Embora tenha havido uma subida de 27% na inadimplência das empresas no acumulado de janeiro a maio, comparado ao mesmo período de 2008, há uma desaceleração mês a mês (de março para abril a queda foi de 22%), o que pode indicar que o pior já passou.

Os bancos públicos se mostram mais agressivos em sua estratégia de atender as MPEs. O Banco do Brasil, por exemplo, incrementou em R$ 11,6 bilhões o limite nas operações garantidas com recebíveis (duplicatas, cheques pré-datados) para 303 mil micro e pequenas empresas, e reduziu os juros para capital de giro daquelas cujo faturamento anual é de até R$ 15 milhões. Em média, isso representa um aumento de 20% no limite de cada companhia. A carteira de crédito do BB para as MPEs cresceu 45,7% nos últimos doze meses e 7,2% na comparação dos primeiros trimestres de 2009 e 2008.

"Essa medida vem se somar a outras que o banco vem tomando para ajudar o consumo e melhorar o fluxo de caixa das pequenas empresas que se preparam para as datas de maior venda do segundo semestre", diz Ary Joel Lanzarin, diretor de micro e pequenas empresas do Banco do Brasil.

Para ele, há sinais claros de retomada da atividade econômica. "Com isso esperamos ampliar em 19% nossa carteira de crédito para as MPEs este ano", informa. Segundo Lanzarin, o nível de inadimplência do BB (2,7%) mantém-se abaixo da média do sistema financeiro. As duas principais linhas de crédito do banco para capital de giro tiveram os juros reduzidos de 2,60% para 1,66% e de 2,50% para 2,09%. "As taxas estão menores do que em 2008", assinala.

A Caixa Econômica Federal também ampliou sua carteira de crédito para MPEs. De janeiro a maio, os recursos aplicados em empréstimos cresceram 18%, em relação ao mesmo período de 2008, passando de R$ 9,5 bilhões para R$ 11,2 bilhões (ver quadro). O superintendente nacional de MPEs, Zaqueu Soares, prevê um aumento da demanda. "Já baixamos os juros seis vezes este ano, monitoramos o mercado para criar novas alternativas de produtos", diz. Os juros para capital de giro caíram de 2,7% para 1,50%.

Os grandes bancos privados estão mais contidos em suas previsões. Para Sílvio Carvalho, CFO do Banco Itaú, a liquidez do mercado está normalizada, mas os efeitos da crise ainda não foram totalmente debelados. "Este será um ano de transição." Mesmo apostando em crescimento zero do PIB, Carvalho projeta crescimento de 17% no saldo da carteira de crédito para micro, PMEs este ano.

A aquisição do Unibanco ampliou em R$ 13,2 bilhões a carteira do banco, mas a inadimplência subiu de 1,7%, em dezembro, para 2,5% em março. As despesas com provisões contra risco de crédito aumentaram 11,8% em relação ao último trimestre de 2008.

No Bradesco, a participação das MPEs no saldo da carteira de crédito também aumentou no primeiro trimestre. Passou de 58,3% para 58,8%. A demanda por crédito entre as grandes empresas no período caiu 1,7%. Em relação ao primeiro trimestre de 2008, houve queda de 0,2% nos ativos totais de crédito, informa o diretor Ademir Cossielo. Segundo ele, o risco de inadimplência está sob controle, mas os critérios para concessão de empréstimos continuam rigorosos.

Fonte: Valor Econômico, por Edson Pinto de Almeida

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