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CAIXA PREJUDICA EMPREGADOS COM ALTERAÇÃO NO PLANO DE CARREIRA E SÓ SE PREOCUPA COM NOVAS AQUISIÇÕES

Planos ousados têm sido traçados no alto de um edifício circular no centro da capital federal. Do 21º andar da sede da Caixa Econômica Federal, a diretoria do banco se prepara para aquele que será o mais desafiante voo da instituição que sempre teve a imagem de banco social, que cuida da habitação e saneamento, áreas ignoradas pelos concorrentes privados. Agora, a situação mudou.

A Caixa está em negociação para comprar outras instituições. Quer crescer para emprestar mais. É a recomendação do governo. E a presidente da instituição, a recifense Maria Fernanda Coelho, tem seguido o plano à risca. Mira o financiamento de veículos, o empréstimo consignado e as empresas de médio porte. "Daqui até o fim do ano vamos ter feito algumas aquisições."

Diretores, porém, alertam que a cautela é uma marca de Maria Fernanda. Portanto, não será surpresa se negócios forem anunciados bem antes disso.

Enquanto segue com planos para comprar mais empresas, a Caixa deixa de lado compromissos assumidos no desfecho da campanha salarial do ano passado e divulga informações sobre alterações promovidas pela empresa nos normativos relacionados ao plano de carreira. Não houve ao menos comunicação prévia. Com isso, as discussões e o calendário previsto para a formulação de propostas e para as negociações entre as partes foram atropelados.

As alterações nos normativos estão interligadas a outros fatos igualmente perversos. Havia reunião marcada para a última segunda-feira, dia 22 de junho, na qual a empresa apresentaria à CEE/Caixa suas sugestões de mudanças nos normativos RH 060 e RH 040, mas o encontro foi desmarcado pela Caixa.

As mudanças no plano de carreira revelam a opção da empresa por interromper o diálogo e impor o que lhe interessa. De acordo com as primeiras informações, as mudanças em normativos são as mais diversas, incluindo itens relativos a cargos e atribuições (RH 060), a processos seletivos (RH 040), ao exercício de cargos em comissão (RH 022) e a cargos efetivos (RH 175).

O descaso completa-se com ofício da Caixa à Contraf/CUT, informando que a apresentação da proposta da empresa para o PCC, prevista para ocorrer em 30 de junho, terá que ser adiada para o dia 17 de julho. É muito grave essa atitude da empresa em relação aos empregados e suas entidades representativas, porque indica que a intenção é implantar unilateralmente o PCC, atitude que pode comprometer o processo de negociações permanentes, construído ao longo dos últimos anos.

Dia Nacional de Luta em 8 de julho

A resposta dos empregados da Caixa às arbitrariedades da direção da empresa será dada em 8 de julho, com um Dia Nacional de Luta por um PCC digno e sem distorções nem injustiças. A mobilização foi aprovada na plenária nacional realizada no dia 16 de junho, em São Paulo (SP), com a participação de cerca de 150 delegados de todo o país.

Confira a entrevista de Maria Fernanda Coelho:

Em entrevista ao Estado, ela defendeu a atuação mais forte dos bancos públicos e diz que os seguidos cortes de juros anunciados pela instituição já rendem frutos.

Para Maria Fernanda, concorrentes privados começaram a reduzir os juros e os spreads bancários – diferença entre a taxa de captação paga pelos bancos e a cobrada dos clientes nos empréstimos – porque bancos como a Caixa e o Banco do Brasil despertaram a concorrência. A seguir, os principais trechos da entrevista.

A Caixa é um dos principais instrumentos do governo para ajudar na ampliação do crédito. Mas há quem diga que a rápida expansão recente fez o banco chegar perto de um limite nos canais de distribuição de produtos. Há algo que possa impedir a continuidade do crescimento dos empréstimos nos próximos anos?
Que impeça, diria que não. O que existe é a perspectiva de que podemos crescer não só de forma orgânica, mas também através de aquisições. Hoje, não vejo nenhum impedimento para o crescimento da Caixa, considerando a estrutura que temos. Agora, é fato que, com a criação da CaixaPar (subsidiária que poderá comprar participação em empresas), abriram-se novas oportunidades. A CaixaPar vai dar um outro patamar competitivo à instituição.

Se os canais de distribuição de produtos não impedem o crescimento, por que adquirir outras instituições?
Os canais podem ser otimizados. Eu posso ter a chance, por exemplo, de ter uma participação que me permita operar em alguns nichos em que somos ainda tímidos. Isso vai permitir um crescimento muito mais rápido do banco.

Em que setores há mais espaço para essas prospecções?
Veículos é um exemplo. No crédito à pessoa física, ainda temos espaço para crescer. Mesmo no crédito consignado, onde nós começamos, há espaço. Para as pessoas jurídicas, (há espaço) no segmento de médias empresas, onde podemos levar operações estruturais para esses clientes.

Especialistas dizem que a grande lacuna da Caixa é não ter uma financeira. O mercado tem várias instituições independentes nesse segmento. Há chance de uma aquisição de financeira?
A CaixaPar tem feito estudos, está fazendo prospecções. Não vou adiantar agora porque isso ainda é parte de um estudo que está sendo feito com muita segurança. A própria medida provisória (que criou a CaixaPar) assim o previu. Então, você precisa ter um processo de prospecção bastante efetivo. Mas posso dizer que daqui até o fim do ano vamos ter feito algumas aquisições.

Em que fase das negociações o banco está atualmente?
Estamos na etapa de consulta para verificar a assessoria que vamos precisar para o negócio.

Com alguma frequência, são ouvidos rumores de que os Correios poderiam interromper a parceria do Banco Postal. A Caixa teria interesse na operação?
Desconheço qualquer discussão entre os Correios e o Bradesco nesse tema. Mas tudo o que possibilitar o crescimento da rede é um negócio a ser prospectado pela Caixa. Se a gente tiver a possibilidade de mostrar o nosso modelo de negócio, de apresentar uma alternativa, sem dúvida.

Essa é uma questão que sempre é ouvida na Caixa. O tema "rede" é, hoje, o principal problema do banco?
Não diria que é problema, diria que, na realidade, é o grande diferencial. Qual é o grande diferencial de uma instituição como a Caixa? É o fato de ter uma grande rede, essa condição de acesso.

Desde o agravamento da crise, a Caixa tem sido bastante agressiva para ofertar crédito e reduzir juros. Após essa atuação forte, foi possível ganhar mercado? Tanto esforço valeu a pena?
Crescemos muito, de forma muita expressiva, na pessoa jurídica. Se compararmos o primeiro trimestre de 2009 com igual período de 2008, a carteira global de crédito cresceu 52%. Entre as empresas, houve aumento de 108%. Continuamos a crescer na micro e na pequena, mas passamos a contar também com médias e grandes. Em setembro de 2008, tínhamos 1,9% do mercado de crédito para empresas e no fim de maio chegamos a ter 3,2%.

Entre essas grandes, está a Petrobrás. A companhia tomou R$ 2 bilhões, que venceram no fim de abril. O empréstimo foi renovado?
Não comentamos operações individuais, sugiro perguntar à Petrobrás. Mas posso dizer que temos operado com grandes empresas. Interessante é que essa operação com a Petrobrás tornou clara para as demais grandes empresas que nós temos condição de operar nesse segmento. Isso de fato aconteceu e foi uma reação inesperada em relação à polêmica que foi criada por essa contratação.

Se a Caixa opera com grandes clientes, não há risco de um grande financiamento desse porte deixar uma pequena empresa sem recurso disponível?
Não, sob nenhuma hipótese. Temos condição de dobrar a carteira de crédito e sair de R$ 90 bilhões em empréstimos para R$ 180 bilhões. Não há disputa de recursos dentro da Caixa.

O governo tem batido muito na tecla do spread bancário. Há uma dificuldade de avaliação do tema porque a divulgação dos dados não é muito bem vista entre os economistas. Como o banco, que é controlado pelo governo, poderia colaborar nesse tema?
Essa questão tem avançado bastante. O Banco Central tem feito divulgações periódicas, mas você tem uma discussão hoje quanto à metodologia usada. Realmente acho que as instituições financeiras e o BC devem sentar para uniformizar as ferramentas e a metodologia. É a mesma coisa que aconteceu com as tarifas bancárias. Começou com uma ampla discussão, fazendo pesquisas e hoje temos o custo efetivo total, que mostra tudo o que o cliente vai pagar em uma operação de crédito.

O dado divulgado pelo BC não é adequado para a comparação dos spreads?
O que há é uma discussão sobre a metodologia de apuração. A divulgação desse dado foi uma etapa e, como toda etapa, precisa de aperfeiçoamento.

E quanto aos spreads da Caixa? O governo pede que o banco reduza as margens para induzir a concorrência…
Ele é menor que na concorrência, mas é difícil dizer precisamente qual é a diferença, dar um porcentual. Mas acho que está entre 20% e 30% menor nas operações para pessoas físicas. É difícil fazer esse cálculo porque depende do perfil da operação; são muitas variáveis. Mas há a convicção de que, em alguns produtos, o spread da Caixa pode chegar à metade do praticado na concorrência, como no crédito consignado.

E esse movimento tem incentivado a concorrência? Já dá para perceber isso?
Sim. Os concorrentes começaram a reduzir o juro, em alguns casos, além da oscilação da taxa Selic (taxa básica de juros). O que se observava anteriormente era que os concorrentes reduziam o juro com o mero repasse da Selic.

Esse é o papel do banco público? Induzir movimentos na concorrência?
Está na natureza do banco público prospectar novos mercados, nichos e espaços territoriais. De fato, o banco público chega primeiro onde as demais instituições não arriscariam chegar. É um componente da nossa atuação. Não é a toa que temos, por exemplo, os correspondentes lotéricos. E entre os bancos públicos há um processo de especialização. A Caixa, por exemplo, é especialista no financiamento habitacional e no saneamento.

Então, o Banco do Brasil "atropelou" a Caixa ao estrear recentemente no mercado imobiliário?
Não. Acho que é da natureza do negócio. Ganha o cliente, que vai ter mais opções e oferta no mercado.

Qual é a demanda para o "Minha Casa, Minha Vida"?
Hoje, já temos proposta para o financiamento de 80.830 unidades habitacionais no programa. São 472 projetos de empreendimento com valor de R$ 5,2 bilhões. Desse grupo, 159 propostas já entraram com a documentação completa no banco e 79 projetos já contrataram o financiamento da Caixa. Entre as pessoas físicas, já temos contratado o financiamento de 5.625 unidades ou R$ 375 milhões. Com isso, o programa já passou de R$ 1 bilhão.

Não há risco de termos um gargalo quando as pessoas físicas forem financiar individualmente essas mais de 80 mil casas?
Não há porque a Caixa já tem o processo todo montado. Temos feito uma média de 2.700 contratos de financiamento imobiliário por dia. O melhor exemplo da agilidade é o Feirão de Imóveis. O cidadão entra, entrega a documentação, o resultado sai na hora, ele assina o contrato e sai com as chaves. Não sei se hoje alguém no mundo faz essa liberação mais rápida que a Caixa. Há cinco anos, a resposta era outra.

Como estão sendo distribuídos esses projetos habitacionais? Há um segmento que tem sido privilegiado pelos incorporadores?
Dos projetos entregues, 6,2% das unidades estão no Norte do País. No Nordeste é onde temos mais propostas, com 35,4% das unidades. O Sudeste tem 32,3%, o Sul conta com 14,4% e o Centro Oeste, com 12,5%. Do ponto de vista da renda, 24% das unidades são destinadas às famílias com renda entre zero e três salários mínimos. Outra parcela de 38% é voltada aos que ganham entre três e seis salários e 38%, para renda entre seis e dez salários mínimos.

A Caixa tem um longo trabalho de fazer com que os brasileiros com menor renda passem a ter conta bancária. Por que é tão difícil levar esses clientes ao banco?
É uma diversidade de fatores, que são sociais e culturais. Quando começamos com o correspondente bancário Caixa Aqui, algumas pessoas achavam que simplesmente não poderiam ter conta. Tivemos de mostrar que isso era simples e que ele poderia ter acesso. Hoje, temos 7 milhões de contas nesse segmento. É um público que ainda não tem cultura de trabalhar com banco. Ele tem de aprender a confiar na instituição.

Como a sra. imagina a Caixa daqui a cinco, dez anos?
O mercado financeiro vai mudar bastante. Se você olhar para trás, de 2003 a 2008, a mudança foi muito significativa, de um impacto enorme. Hoje, temos o crédito consignado, que é uma grande revolução. O consignado tirou as pessoas das mãos dos agiotas e deu uma condição de cidadania com uma taxa de juros 10 vezes mais barata em uma instituição financeira. As micro e pequenas empresas estavam nas mãos das factorings, que praticamente não existem mais. Eram operações marginais ao sistema financeiro. Em cinco anos, vamos perceber uma mudança muito significativa porque teremos taxas de juros bem menores.

Fonte: SindBancários com O Estado de S.Paulo

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