Um dos princípios da democracia é o diálogo, mas Wagner Pinheiro, presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), parece que faltou nessa aula. No primeiro dia de greve dos trabalhadores dos Correios, a grande imprensa difundiu com ênfase as declarações de Pinheiro, onde em entrevista coletiva afirmou que a estatal só vai negociar reajustes salariais caso a greve seja encerrada.
A paralisação, segundo a Federação Nacional dos Trabalhadores dos Correios (Fentect/CUT), foi o último recurso após mais de 40 dias de negociação, onde lhe foi apresentada uma única proposta, abaixo das expectativas e das exigências da categoria.
Saul Gomes da Cruz, diretor de Formação Política Sindical do Sincotelba (Sindicato dos Trabalhadores em Correios e Telégrafos do Estado da Bahia), ressalta que o Comando Nacional de Negociações e Mobilização está aberto ao diálogo.
Mas em vez de sentar para negociar, Pinheiro prefere usar de ameaças para intimidar o movimento grevista, afirmando que descontará a falta dos grevistas durante a paralisação e que não descarta possibilidade de ação judicial contra o movimento.
"As declarações do presidente dos Correios só inflaram nosso movimento. A greve é maciça, com grande unidade nacional. Vamos seguir buscando o diálogo, mas enquanto os Correios mantiverem essa postura intransigente a greve será mantida", conclama Saul.
Os números dão conta de que 70% da área operacional dos Correios está paralisada. Saul ressalta que há dificuldade em manter os 30% de funcionalidade previstos na lei. Ele alerta a população para evitar que procurem os serviços dos Correios neste período.
"É muito importante que a população tenha ciência de que estamos em greve e que não há garantia das cartas, Sedex, Disque-Coleta, cheguem ao seu destino final. Por isso, conclamamos o apoio e o voto de confiança da sociedade. Os Correios são uma das empresas mais confiáveis, segundo a própria população, mas só será possível manter esse quadro com valorização e reconhecimento da importância dos trabalhadores", disse Saul.
A pauta de reivindicações inclui 83 pontos, que envolve a instituição de um piso de R$ 1.635,00; reposição da inflação de 7,16% (de acordo com dados do Dieese); 24,62% de reposição das perdas salariais referente aos anos de 1994 a 2010; melhores condições de trabalho; e reembolso das despesas de creche para os pais; entre outras questões.
Durante a entrevista coletiva, Pinheiro afirmou que a proposta de reajuste de 6,87%, abono de R$ 800 e R$ 25 de vale-alimentação, que seriam pagos somente em janeiro, era o teto máximo que poderia chegar. Só esqueceu de incluir aí o balanço registrado neste primeiro semestre, que dá conta de um lucro na casa de R$ 500 milhões e coloca abaixo essa política de contenção de gastos.
"A afirmação de que não tem verba, que há um teto máximo para se trabalhar e que as reivindicações comprometeriam a folha de pagamento, é mentirosa. Há milhões na conta, a venda do Banco Postal injetou mais dinheiro no caixa. Portanto, nada mais justo do que dividir estes lucros com os responsáveis pelo funcionamento da empresa. Os baixos salários, a alta rotatividade e a falta de funcionários deixam claro que o maior investimento que precisa ser feito é no seu próprio quadro."
Após o fim da greve, os trabalhadores dos Correios farão jornadas mais extensas para repor o trabalho e colocar a entrega das correspondências em dia. É prática dos trabalhadores públicos filiados à CUT.
Fonte: William Pedreira – CUT