Companhias brasileiras renegociam condições e prazos de dívidas, mas em troca assumem custos mais elevados
Tsunami ou marolinha, a crise e seus efeitos diretos, como a escassez de crédito e a disparada do dólar, atingiram as companhias brasileiras. Desde setembro, muitas tiveram de renegociar condições e prazos de dívidas ou reavaliar garantias. Outras tomaram medidas mais dramáticas, como a venda do negócio, ou entraram em recuperação judicial. Felizmente, observa Lika Takahashi, da Fator Corretora, tivemos muito mais feridos do que mortos.
A crise foi democrática: afetou companhias dos mais diversos tamanhos. Até a gigante Petrobras enfrentou pressão de investidores por conta da relação apertada entre o caixa e os vencimentos de curto prazo. A Fitch Ratings prevê que todos os indicadores de crédito das companhias brasileiras sejam, neste ano, piores do que em 2008. Desde setembro, todas as alterações de classificação de risco feitas pela Standard & Poors foram para pior, informou Reginaldo Takara. Na Fitch, o total de rebaixamentos desde o agravamento da crise supera o número registrado nos cinco anos anteriores.
De maneira geral, as empresas estão conseguindo fôlego para passar pelo momento atual. Mas o custo financeiro está crescendo. A Gerdau, por exemplo, renegociou as condições de cobertura financeira com 40 instituições com custos adicionais de US$ 20 milhões a US$ 60 milhões. A Lojas Americanas, ao alongar o vencimento de uma emissão de R$ 200 milhões em debêntures, teve de triplicar o prêmio pago sobre o CDI – de 0,9% para 2,8% ao ano.
Ricardo Carvalho, diretor de avaliação de empresas da Fitch, diz que os setores mais prejudicados foram aqueles com grande necessidade de capital de giro, que sofreram com o aumento do custo, como construção civil, aviação, frigoríficos e açúcar e álcool. Nos escritórios de advocacia e nos bancos de investimentos, desde setembro a demanda migrou de captação de recursos para renegociação de dívidas, revisão de contratos e fusões e aquisições.
O setor de agronegócios teve a maior concentração de pedidos de recuperação judicial. O segmento reúne casos como Independência, Arantes e Infinity Bio-Energia, entre outros. Nos primeiros cinco meses do ano, o número de pedidos de recuperação quase triplicou em comparação com o mesmo período de 2008. Foram 334 casos, ante 114.
Fonte: Valor Online