Para socióloga, desigualdade de gênero é uma questão capitalista
Em sua atividade de abertura, o Diálogos para Ação promoveu um debate tendo como tema o feminismo marxista. O primeiro módulo do ano aconteceu na sexta-feira, dia 23, na Casa dos Bancários, e teve como palestrante a socióloga Helena Bonumá, a diretora da Fetrafi-RS, Denise Falkenberg Corrêa e a socióloga Vanessa Gil. As duas últimas apresentaram seus trabalhos de conclusão do curso de pós-graduação Marxismo Clássico e a Atualidade, realizado através de uma parceria entre o SindBancários e a Fapa.
Denise abriu o módulo, trazendo seu trabalho sobre a Marcha Mundial das Mulheres. A dirigente da Fetrafi-RS iniciou a explanação fazendo referências à mulher de Marx, Jenny Marx, definindo-a como "uma mulher que não ganhou o devido reconhecimento". Segundo Denise, além de administrar a casa, Jenny auxiliou muito Marx na produção de sua obra, sendo tradutora, copista e revisora. "Foi uma mulher fundamental na obra dele. Imagino que tenha sido co-autora de algumas obras. A história não faz justiça a essa mulher", analisou.
Marcha Mundial de Mulheres
"A Marcha Mundial das Mulheres foi criado no fim dos anos 90, a partir de uma marcha chamada pão e rosas, no Canadá. Elas marcharam 20 km e tiveram várias reivindicações atendidas", informou Denise. Hoje, a MMM está em mais de 159.
"A máxima do marxismo, de que as pessoas precisam se mover, é muito usada por nós. Temos que mudar o mundo para mudar a vida de todas as mulheres", disse. Denise ainda analisou que o capitalismo, além de mercantilizar bens como a água, transformou o corpo das mulheres em produto, seja pela prostituição ou pela "ditadura da beleza". "As multinacionais cada vez lucram mais com cosméticos. As mulheres não têm controle de seus próprios corpos, de suas vidas, estão reféns da ditadura da beleza e da magreza", concluiu.
A influência dos clássicos marxistas
"A maior contribuição que essas três feministas que estão aqui podem dar a vocês, são condições para que identifiquem quando as mulheres estão sofrendo algum tipo de discriminação. Quando um gerente pede para uma funcionária fazer as unhas porque estão feias, ou cabelo, vestir uma roupa mais sensual para alcançar as metas, ele está cometendo violência. Isso é sexismo, uma expressão do machismo", garantiu Vanessa ao iniciar sua apresentação.
Para a socióloga, a desigualdade entre gênero é uma questão cultural, que vai além da superação do sistema capitalista. "Quem for pra Havana, sentar numa pracinha e esperar as crianças saírem da escola, vai perceber que não são os homens que vão buscar seus filhos", complementou.
Outro exemplo utilizado por Vanessa foi a União Soviética. "Com a revolução e Lenin no poder, as mulheres acessaram direitos como acesso a universidade, propriedade, o aborto. Como conseqüência, temos a diminuição da taxa natalidade. As mulheres passam a ter uma vida independente e outra relação com seu corpo e a vida. Entretanto, com a chegada de Stalin, elas perderam vários direito. A taxa de natalidade está baixa e são as mulheres que dão a luz aos soldados. A solução foi proibir o aborto, dificultar o divorcio", explicou.
Citando a socióloga Ellen Wood, Vanessa expôs o conceito de bens extraeconomicos. Alguns, como a paz e a ecologia, são considerados incompatíveis com o capitalismo, já que o sistema não existe sem guerra e exploração da natureza. Já outros, como o racismo e o feminismo, não são necessários para a sobrevivência do capitalismo, entretanto o fortificam. "Igualdade de gênero é um problema cultural. Claro que mercantilizar o corpo da mulher dá resultado, vende revista, cerveja. O sistema não irá abrir mão desse produto".
A luta das mulheres é a luta de todos
"O marxismo, em primeiro lugar, é um método de análise da história da sociedade. Não e uma receita de bolo ou uma tese pronta. Ao mesmo tempo, é uma teoria da história, tem uma visão do desenvolvimento da humanidade", explicou Helena. Para ela, Engels e Marx tiveram o mérito de reconhecer a opressão em cima da mulher.
Contemporâneos da onda que levou as mulheres para a indústria, observaram a dissolução de um modelo de família, em que a mulher estava condicionada a cuidar da prole, para virar força de trabalho. O capitalismo levou às últimas consequências a divisão sexual do trabalho. "As mulheres, há milhares de anos, estavam sempre reproduzindo. Acabavam sendo colocadas em serviços mais leves, enquanto os trabalhos mais pesados eram responsabilidade dos homens. Entretanto, não havia desigualdade social, apenas no trabalho".
Diferente da luta de classes, em que os trabalhadores lutam contra o patrão, a luta das mulheres é contra o homem, os próprios parceiros, um processo definido por Helena como complexo. "Os homens estão se mostrando parceiros na busca de uma nova alternativa, ao mesmo tempo em que vive em um sistema que diz o contrário. A construção de relações humanas no capitalismo precisa ser cotidiana. Essa questão é de todos nós, de humanos que querem mudar o mundo", conclui.
*SindBancários