Há possibilidade de acordos válidos por dois anos
O mês de abril será marcado por negociações intensas para várias categorias. As primeiras rodadas de negociação com empresários já ocorreram ou estão por começar para químicos do setor farmacêutico, trabalhadores da construção civil e ferroviários de São Paulo, alguns dos setores com data-base em 1º de maio.
Para oDepartamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), as negociações coletivas tendem a seguir o ritmo do ano passado, de forte reajuste salarial, mas tendo como sombra ocenário de crise econômica nos Estados Unidos e nos países da zona do euro.
O salário mínimo, cujo reajuste é definido pela expansão da economia de dois anos atrás, somada à inflação de 2011, é uma baliza para as negociações do primeiro semestre. Este ano, com um crescimento de 7,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2010,o mínimo ganhou 14,13%, e vale agora R$ 622.
"A magnitude dos ganhos pode ter algum recuo. Mas, no geral, não creio que tenhamos diferenças", resume ocoordenador de Relações Sindicais do Dieese, José Silvestre Prado de Oliveira.Segundo o departamento, as negociações coletivas realizadas no ano passado foram favoráveis aos trabalhadores, com 86,8% dos casos contemplando aumento real. Outra parcela (7,5%) obteve apenas reposição da inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que em 2011 ficou em 6,08%. E 5,7% dos acordos pesquisados ficaram abaixo da inflação.
Alguns pontos podem contrabalancear o efeito da crise nas negociações, segundo Silvestre. "Um deles é que temos o reajuste do salário mínimo, que tem reflexo positivo tanto do ponto de vista do impacto que representa no contingente de pessoas atingidas, do estímulo interno nos setores que produzem bens de baixo valor unitário como nos efeitos que o mínimo tem nos pisos salariais. Acho que há uma boa sinalização", disse o coordenador. A política de redução de juros adotada pelo Banco Central também é positiva, segundo o técnico.
O debate em torno da desindustrialização no país – criticado por sindicalistas e empresários em razão da alta nas importações, falta de incentivos no mercado interno e ameaça dos empregos nacionais – não deverá afetar, em um primeiro momento, as negociações dos setores relacionados à indústria. "Não creio que tenha grandes reflexos no sentido da negociação. O mercado de trabalho continua em expansão, ainda que não nos patamares observados em 2010", disse.
Há ainda a possibilidade de acordos semelhantes aos negociados com os metalúrgicos das montadoras em agosto do ano passado, com reajuste salarial válido por dois anos. "Não tem nada que indique que nós tenhamos um recuo na trajetória das negociações nos últimos anos", disse Silvestre.
*Rede Brasil atual